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Deputada Silvia Waiãpi é desmentida por familiares e indígenas sobre origem étnica e idade

Documentos e relatos de parentes e lideranças indígenas apontam inconsistências na história de Silvia, deputada federal do PL do Amapá

Silvia Nobre Lopes, Silvia Waiãpi (Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)
Guilherme Levorato avatar
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247 - Uma apuração do portal UOL revelou diversas contradições na biografia da deputada federal Silvia Nobre Lopes (PL-AP), que se apresenta publicamente como Silvia Waiãpi. A parlamentar, eleita com 5.435 votos em 2022 — o menor número entre os 513 deputados federais —, enfrenta suspeitas quanto à autenticidade de sua identidade indígena, à veracidade de sua idade e à formação profissional declarada. A investigação também traz à tona questionamentos de lideranças indígenas e de familiares da própria deputada, que desmentem suas alegações.

A origem indígena de Silvia é um dos pontos mais controversos. Embora afirme ter nascido na terra indígena Waiãpi e ter sido adotada por Pedro e Edenes Nobre Lopes após um acidente na infância, essa versão é refutada por diferentes fontes. Lideranças do povo Waiãpi, amigos de infância da deputada e até a própria Edenes, em vídeos anteriores às eleições de 2022, contradizem sua narrativa. Em uma dessas gravações, Edenes declara que Silvia é sua filha biológica, nascida em 29 de agosto de 1971, sendo a oitava de nove filhos, e diz não ser indígena: "sou mãe natural da Silvia".

A certidão de nascimento da parlamentar, registrada em Macapá, confirma a data de nascimento de 1971 — informação também presente em uma carteirinha do Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro emitida em 1997. Porém, Silvia apresentou em diferentes ocasiões um documento com data de nascimento em 1975, utilizado inclusive para ingresso nas Forças Armadas e para o registro de sua candidatura.

Lideranças Waiãpi denunciam que Silvia se aproximou de uma família da aldeia em 2022, alegando ser filha desaparecida do casal Seremeté e Pupira. Segundo os relatos, o vínculo teria sido consolidado mediante apoio financeiro da parlamentar, incluindo despesas com saúde, educação e moradia em Macapá. O cacique Patena Waiãpi foi categórico ao comentar o caso: "todo mundo sabe que ela não é waiãpi. [...] Conheci a mãe dela [Edenes], que confirmou que ela não é Waiãpi".

Outra crítica recorrente diz respeito ao uso do suposto idioma indígena nos discursos da deputada. Trechos analisados por uma especialista e por membros da comunidade não identificaram correspondência com a língua Waiãpi. "Ela quer aproveitar a oportunidade dela, [porque] ela é bem parecida com uma índia", disse o cacique Patena.

A família da deputada evita conceder entrevistas. Uma das irmãs de Silvia, no entanto, chegou a escrever em rede social que ela "mentia sobre ser indígena", e declarou: "a índia 'tá' eleita de braços dados com a família". Essa mesma irmã, que inicialmente aceitou falar com o UOL, depois recuou.

Além das controvérsias sobre sua identidade, a trajetória profissional de Silvia também apresenta lacunas. A deputada diz ter sido atriz coadjuvante e aderecista na TV Globo, além de ter formação em fisioterapia e pós-graduação em Gênero e Sexualidade pela Uerj. A emissora não confirmou as atividades mencionadas e a universidade informou que ela se matriculou no curso de especialização em 2010, mas não o concluiu.

Sua entrada nas Forças Armadas ocorreu em 2010, após o assassinato de seu segundo marido, o sargento Sérgio Luiz Lopes. Apresentando-se como "a primeira mulher indígena das Forças Armadas", Silvia tentou migrar para a Marinha em 2011, mas foi reprovada, supostamente por ter feito um exame físico no lugar de outra candidata.

No campo político, Silvia emergiu em 2018 como integrante da equipe de transição do governo de Jair Bolsonaro (PL). Assumiu cargos nos Ministérios da Saúde Indígena e dos Direitos Humanos. Apesar de sua identidade pública, atua favoravelmente ao marco temporal para a demarcação de terras indígenas, medida criticada por movimentos do setor. O deputado Dorinaldo Malafaia (PDT-AP) comentou: "ela criou uma personagem indígena e tem como bandeira o agronegócio, não os indígenas".

Em junho de 2024, Silvia teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Amapá por uso irregular de verba de campanha, desviada para procedimentos estéticos de harmonização facial. A parlamentar ainda permanece no cargo, pois recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ao ser procurada pela reportagem, Silvia declarou que as denúncias são de foro íntimo e ferem 'convenções internacionais de defesa dos direitos indígenas' e a Lei 14.192/2021, que trata da violência política contra mulheres.

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