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Lula defende diálogo com Trump: 'É bom, desde que na lógica do ganha-ganha'

Presidente destacou que democracia e soberania brasileiras não estarão em negociação

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante entrevista coletiva à imprensa. Sede das Nações Unidas, Nova York - EUA. Foto: Ricardo Stuckert / PR (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

247 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou, em entrevista coletiva concedida ao final de sua agenda oficial na ONU, nesta quarta-feira (24/9), que está disposto a retomar o diálogo com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A notícia foi publicada pela Agência Gov. Lula destacou que uma eventual aproximação atende à vontade de ambos os povos e que o relacionamento bilateral deve ser pautado pelo princípio do "ganha-ganha".

Segundo o presidente brasileiro, não há restrições para a conversa entre os dois países, exceto em relação a temas fundamentais: “Quando tiver eleição nos Estados Unidos, eu não me meto. E quando tiver eleição no Brasil, ele não se mete”. Lula frisou que democracia e soberania não estão em negociação.

A lógica do "ganha-ganha"

Lula defendeu que o diálogo entre Brasil e Estados Unidos traga benefícios concretos às duas nações. “No caso do Brasil, a gente não tem que perder, a gente tem que ganhar e também os outros têm que ganhar, porque tem que ser um acordo de ganha-ganha. Essa é a minha disposição e eu espero que seja a disposição dos Estados Unidos também, porque será bom, será bom para a nossa economia, para a nossa indústria, para o nosso comércio, para a nossa agricultura e para a relação das duas democracias mais importantes da América”, afirmou.

Questionado sobre a possibilidade de discutir terras raras e minerais críticos, Lula ressaltou que o Brasil não pode repetir erros do passado: “O que a gente não quer é permitir que aconteça como aconteceu até agora com os minérios: a gente é só exportador, só exportador, só exportador e não faz o processo de industrialização dentro do Brasil”.

O encontro inesperado e a “química”

Lula revelou ter sido surpreendido pelo encontro com Trump nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, após seu discurso de abertura. O presidente norte-americano, que falou em seguida, afirmou que havia surgido uma “química” entre os dois. Lula respondeu com bom humor: “Eu fui surpreendido, porque eu já estive ali outras vezes e não encontrei sempre com o presidente [dos Estados Unidos]... E eu acho que pintou uma química mesmo, eu acho”.

Antes das perguntas dos jornalistas, Lula fez uma breve exposição sobre sua agenda na ONU e voltou a defender que os países concentrem esforços na luta contra a fome e a pobreza. “Se todos os governantes do mundo colocarem o pobre dentro do orçamento, a gente acaba com a pobreza muito rapidamente”, disse, lembrando que, segundo a FAO, mais de 670 milhões de pessoas passam fome.

Ele também criticou os gastos militares excessivos: “Quando você vê as pessoas gastarem trilhões em armas, trilhões em guerras, a gente não tem explicação do comportamento dos humanos em tratar a própria espécie humana”.

Relações comerciais e expectativas

Lula sublinhou que a qualidade das informações é essencial para que Trump compreenda a realidade do comércio bilateral: “Eu não sei quem foi que disse para o presidente Trump que ele tinha um déficit comercial com o Brasil. Ele teve um superávit em 15 anos de 410 bilhões de dólares”.

Entre janeiro e agosto de 2025, o Brasil exportou US$ 26,6 bilhões para os Estados Unidos, um aumento de 1,66% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto as importações chegaram a US$ 30 bilhões, alta de 11,44%. Somente em 2024, os EUA registraram superávit de quase US$ 30 bilhões no comércio com o Brasil.

O presidente concluiu a coletiva enfatizando a importância de um diálogo franco: “Estou muito otimista, porque eu acredito muito na relação humana. Acho que tudo pode ser resolvido quando duas pessoas conversam. Eu acredito muito no poder de convencimento das palavras”.

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