Lula cita "fracasso" da esquerda mundial e "sufocamento" da democracia pela extrema-direita
Presidente participa de reunião em Nova York e cobra autocrítica: “antes de procurar virtude no extremismo, temos que procurar os erros da democracia”
247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira (24) que a esquerda precisa reconhecer erros cometidos ao longo de sua trajetória e fortalecer a participação popular para enfrentar o avanço da extrema-direita. A declaração ocorreu durante a 2ª Reunião “Em Defesa da Democracia, Combatendo Extremismos”, realizada em Nova York, com a presença de chefes de Estado da América do Sul e da Espanha. O encontro dá continuidade à iniciativa lançada em 21 de julho, em Santiago, no Chile.
Segundo Lula, a democracia enfrenta um momento decisivo no cenário global. Ele defendeu que líderes progressistas façam uma autocrítica sobre os motivos que permitiram a ascensão da extrema-direita em diferentes países. “O que me inquieta hoje é a gente responder para nós mesmos: aonde é que os democratas erraram? Qual foi o momento em que a esquerda errou? Por que nós permitimos que a extrema-direita crescesse com a força que está crescendo? É virtude deles ou é incompetência nossa?”, questionou.
Trajetória política e o surgimento do PT
Durante o discurso, Lula resgatou sua própria experiência política desde o final dos anos 1970. Ele lembrou que, antes de ingressar na vida partidária, era apenas um jovem metalúrgico e sindicalista que, "por acaso", acabou se tornando protagonista da política brasileira.
O presidente relatou o episódio que o motivou a criar o Partido dos Trabalhadores: a tentativa do regime militar, em 1978, de restringir o direito de greve de determinadas categorias. Ao se manifestar contra a medida em Brasília, Lula percebeu que não havia trabalhadores representados no Congresso. “Voltei para casa pensando: ‘como eu, um operário, quero que votem leis favoráveis à classe trabalhadora se não tem trabalhador no Congresso Nacional?’. Foi essa a grande descoberta que fiz na vida e foi daí que criei um partido”, explicou.
A criação do Foro de São Paulo
O presidente também destacou a importância da articulação internacional entre movimentos progressistas. Ele lembrou que, após sua primeira candidatura presidencial em 1989, convocou lideranças da esquerda latino-americana para formar o Foro de São Paulo, com o objetivo de fortalecer partidos e movimentos sociais da região. “Era necessário que todos voltassem a fazer política”, afirmou.
Autocrítica e defesa da democracia
No encontro em Nova York, Lula reforçou a necessidade de os governos democráticos recuperarem o vínculo com a sociedade civil, em vez de priorizar interesses do mercado ou ceder às pressões de adversários políticos. “Muitas vezes a gente ganha as eleições com discurso de esquerda e, quando começa a governar, atende muito mais os interesses dos nossos inimigos do que dos nossos amigos. Esse é o fracasso da democracia”, criticou.
O presidente ainda fez um apelo para que militantes, partidos e lideranças sociais retomem a prática da organização popular em comunidades, locais de trabalho e espaços de estudo. Para ele, essa é a base para reconstruir a confiança da população no projeto democrático.
“Antes de procurar a virtude do extremismo de direita, temos que procurar os erros que a democracia cometeu na relação com a sociedade civil. Se encontrarmos essa resposta, vamos voltar a vencer a direita. Se não, continuaremos sufocados pelo negacionismo, pelo extremismo e pelo discurso fascista que estamos vendo agora”, concluiu Lula.