Trégua entre Trump e Lula leva otimismo ao mercado financeiro
Sinal de aproximação entre os presidentes dos EUA e do Brasil fortaleceu ativos nacionais e derrubou o dólar na terça-feira
247 - O mercado financeiro brasileiro viveu um dia de forte otimismo após a sinalização de aproximação entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo o Valor Econômico, as declarações de Trump na Assembleia Geral da ONU tiveram impacto imediato sobre os ativos domésticos, em um cenário já beneficiado pelo tom mais suave da ata do Comitê de Política Monetária (Copom).
Trump afirmou ter tido uma “excelente química” com Lula e anunciou que os dois devem se reunir na próxima semana. A fala surpreendeu investidores e foi interpretada como um sinal de redução das tensões diplomáticas entre Brasil e EUA, que vinham se intensificando nos últimos meses. A notícia impulsionou o real e a bolsa brasileira, com queda expressiva do dólar e novo recorde histórico do Ibovespa.
Reação imediata nos mercados
O dólar recuou 1,10% e encerrou a terça-feira (23) cotado a R$ 5,2791, o menor nível em 15 meses. O Ibovespa subiu 0,91%, alcançando 146.425 pontos, em novo fechamento recorde, após atingir durante o pregão a máxima intradiária de 147.178 pontos.
Para o trader de um grande banco local, o discurso de Trump funcionou como catalisador: “O mercado leu essas declarações como um sinal de que pode haver uma redução na recente tensão entre os países”, afirmou.
Percepção de risco em queda
Luís Garcia, diretor de investimentos da SulAmérica Investimentos, destacou que havia um prêmio de risco associado a um possível atrito no encontro entre os presidentes. “Mas ocorreu exatamente o contrário do esperado, apenas reforçando o grau de imprevisibilidade dessas situações. Só que agora foi algo imprevisível que nos favoreceu”, avaliou.
No início da semana, os investidores haviam precificado riscos adicionais em razão das sanções impostas pelos EUA, que incluíram a aplicação da Lei Magnitsky contra a esposa do ministro do STF Alexandre de Moraes. O cenário também era pressionado por incertezas políticas domésticas, após protestos recentes.
Fatores externos e dinâmica cambial
Garcia reforçou que, além do alívio diplomático, a tendência global de enfraquecimento do dólar continua sendo determinante: “Esse é o norte da dinâmica do câmbio agora. Somos passageiros dessa viagem”.
Até ontem, o real acumulava valorização de 2,63% frente à moeda americana em setembro, figurando entre os desempenhos mais fortes do mundo, ao lado do peso colombiano, do rand sul-africano e do florim húngaro.
Volatilidade permanece no radar
Eduardo Grübler, gestor da AMW, lembrou que, apesar do alívio imediato, o cenário segue incerto. “É sempre cedo para comemorar quando estamos negociando com Trump. A volatilidade é o padrão com ele. Sempre foi”, afirmou.
Ainda assim, o tom conciliador foi suficiente para impulsionar papéis sensíveis ao risco político, como as ações do Banco do Brasil, que subiram 2,88%.
Commodities e geopolítica no jogo
Além da trégua diplomática, os preços do petróleo também favoreceram o mercado brasileiro. Os papéis da Petrobras avançaram com força, refletindo a alta da commodity diante dos ataques ucranianos a refinarias russas e do risco de novas restrições às exportações de diesel e gasolina por Moscou.
Segundo Ricardo Kazan, gestor da Legacy Capital, a valorização do petróleo trouxe “prêmio geopolítico” adicional, fortalecendo ainda mais o desempenho do real e do Ibovespa.