Folha mergulha de cabeça na campanha de Tarcísio e o retrata como o presidenciável "menos rejeitado"
Projeto das elites é a eleição sem Lula e sem Bolsonaro
247 – Em nova reportagem publicada neste sábado (14), a Folha de S.Paulo voltou a apostar suas fichas na candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao destacá-lo como o presidenciável com menor índice de rejeição entre os nomes testados na pesquisa Datafolha. A matéria dá ênfase ao número de 15% de rejeição do ex-ministro de Jair Bolsonaro, ao mesmo tempo em que retrata o presidente Lula (PT) e o próprio Bolsonaro como “os mais rejeitados”. A estratégia evidencia um movimento editorial que se alinha ao projeto das classes dominantes de promover uma eleição em 2026 sem os dois maiores polos de preferência popular dos últimos ciclos eleitorais.
O recorte do levantamento divulgado pela Folha desloca o foco da pesquisa principal — que mostra Lula liderando o primeiro turno com folga — para um índice que favorece a imagem de Tarcísio. No entanto, a mesma pesquisa Datafolha, revela que Lula lidera a disputa presidencial com 38% das intenções de voto, contra 20% de Tarcísio. Quando o cenário é de segundo turno, os dois aparecem tecnicamente empatados. Ou seja, Lula segue como a principal liderança política nacional.
A escolha do ângulo pela Folha serve como termômetro do jogo das elites brasileiras, que parecem agora trabalhar para retirar Bolsonaro definitivamente do tabuleiro político, sobretudo após sua condenação à inelegibilidade até 2030 e a condição de réu por tentativa de golpe. Uma vez afastado o ex-capitão, o objetivo seguinte seria abrir guerra contra Lula, a fim de consolidar um nome que represente a continuidade do projeto neoliberal sem o desgaste estético e institucional que marcou o bolsonarismo.
Tarcísio é o nome ideal desse plano. Ex-militar e tecnocrata, foi ministro da Infraestrutura de Bolsonaro e se elegeu governador de São Paulo com apoio direto do bolsonarismo. Agora tenta se descolar da imagem do ex-presidente, ao mesmo tempo em que preserva o apoio dos setores mais conservadores da sociedade, com respaldo explícito da mídia corporativa. A apresentação de Tarcísio como “o menos rejeitado” é, na prática, uma tentativa de torná-lo mais palatável ao eleitorado de centro e às elites econômicas.
Entretanto, a insistência em apresentar a rejeição de Lula como insuperável ignora um dado central: o presidente tem sido alvo de campanhas sistemáticas de desinformação e desgaste desde que reassumiu o cargo. Mesmo assim, mantém índices expressivos de apoio popular e lidera todos os cenários de primeiro turno nas pesquisas de intenção de voto.
Além disso, os dados da própria pesquisa revelam que Lula tem desempenho particularmente forte entre os mais pobres e no Nordeste, onde sua rejeição é bem menor que a de Bolsonaro. Entre quem ganha até dois salários mínimos, a rejeição ao petista é de 39%, enquanto a do ex-presidente é de 44%. No Nordeste, Lula é rejeitado por apenas 31% dos entrevistados, enquanto Bolsonaro atinge 53%.
O movimento de setores da imprensa, como a Folha, de eleger um novo representante da direita, sem o “peso” do bolsonarismo, reforça o velho projeto das classes dominantes brasileiras: evitar que a disputa democrática se dê entre os dois maiores líderes populares da atualidade. A tentativa de transformar a rejeição em critério determinante de elegibilidade escamoteia o fato de que eleição se vence com votos — e Lula, até agora, segue sendo o mais votado.
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