Usiminas reforça defesa contra aço chinês no 3º trimestre
Empresa aposta em medidas antidumping e disciplina financeira para enfrentar importações crescentes e margens pressionadas
247 - A Usiminas encerrou o terceiro trimestre de 2025 sob os mesmos desafios que afetam a indústria global do aço: aumento das importações, compressão de margens e uma recuperação doméstica desigual. As informações foram divulgadas pela Brazil Stock Guide, após a teleconferência de resultados da companhia, que contou com o CEO Marcelo Chara, o vice-presidente Comercial Miguel Ángel Camejo e o CFO Thiago da Fonseca Rodrigues.
Durante a apresentação, os executivos destacaram tanto a resiliência da empresa quanto o desequilíbrio estrutural causado pelo aço chinês de baixo custo. Chara observou que as importações de aços planos cresceram 33% nos nove primeiros meses do ano, sobretudo provenientes da China, e continuam a “minar a base industrial brasileira”. Segundo ele, o problema é estrutural: “Trata-se de um desequilíbrio global de capacidade que cria empregos em outros países e destrói postos industriais altamente qualificados no Brasil.”
Investigações antidumping e concorrência desleal
A Usiminas demonstrou confiança nas investigações antidumping conduzidas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Camejo afirmou que os processos sobre aço laminado a frio e revestido são “tecnicamente sólidos”, e que medidas provisórias em torno de US$ 500 por tonelada já foram discutidas. As decisões finais devem sair entre fevereiro e março de 2026. “As evidências de dano são contundentes”, afirmou. “Não se trata de protecionismo, mas de restaurar uma concorrência justa.”
Ajustes de preço e estabilidade de demanda
Questionado sobre o reajuste de preços de 4% a 7% em outubro, Camejo esclareceu que se trata de uma “correção técnica” e não de um aumento generalizado. “O mercado havia atingido níveis insustentáveis. Esses ajustes apenas restabelecem margens operacionais mínimas”, explicou. O executivo ressaltou ainda que as mudanças tiveram “baixo impacto inflacionário” e que os contratos industriais refletirão os novos valores a partir de janeiro de 2026.
O setor automotivo foi o destaque do trimestre, com alta de 10% na produção em relação ao período anterior. O segmento de máquinas e equipamentos manteve-se estável, enquanto a construção civil segue enfraquecida pelos juros altos e estoques elevados. Mesmo com menor exposição ao setor de construção, Camejo admitiu que a demanda geral segue moderada.
Exportações e disciplina financeira
As exportações caíram levemente após a conclusão de projetos de petróleo e gás na Argentina, mas devem se recuperar no quarto trimestre. “Nosso pipeline de exportações permanece ativo”, disse Camejo, citando o Cone Sul e a América do Norte como principais destinos.
O diretor financeiro Thiago Rodrigues destacou a geração de R$ 613 milhões em fluxo de caixa livre, apoiada por melhor gestão de estoques e liberação de capital de giro. O EBITDA ajustado cresceu 6% no trimestre, atingindo R$ 434 milhões, com margem de 7%. A dívida líquida caiu 69%, para R$ 327 milhões, o que reduziu a alavancagem para 0,16 vez o EBITDA — um dos menores níveis da história da Usiminas.
“Continuamos operando com um balanço sólido e prazos longos de endividamento”, disse Rodrigues. “Isso nos permite focar em performance e modernização.” Os investimentos somaram R$ 266 milhões, concentrados em projetos como PCI, reforma da Coqueria e infraestrutura da PADAP. O plano anual de investimentos, de cerca de R$ 1,2 bilhão, foi reafirmado.
Ajuste contábil e visão estratégica
Rodrigues também abordou a baixa contábil de R$ 3,6 bilhões que resultou em prejuízo líquido. “Foi um ajuste contábil exigido pelas regras de recuperabilidade de ativos”, explicou. Segundo ele, o impacto não envolve desembolso de caixa nem altera o plano de investimentos. “Há potencial de reversão se as condições de mercado melhorarem.”
Encerrando a teleconferência, Marcelo Chara ressaltou que o cenário atual exige “disciplina, e não reação”. “Isso não é uma crise, é um ajuste”, afirmou. O executivo reforçou o compromisso com eficiência, sustentabilidade e digitalização. “Estamos prontos para absorver o crescimento da demanda e competir de forma eficiente. Nossa agenda é de longo prazo — eficiência, sustentabilidade e equilíbrio industrial.”
A mensagem final da Usiminas foi de resiliência e controle financeiro em meio a um mercado global distorcido. A companhia aposta em medidas antidumping, gestão rigorosa e paciência estratégica para restabelecer a competitividade no setor. Como resumiu Camejo: “Não estamos pedindo proteção. Estamos pedindo justiça.”


