Cade pode impor restrições à fusão entre Petz e Cobasi
Audiência pública expõe disputa entre gigantes do setor pet e entidades de defesa do consumidor
247 – Uma audiência pública realizada no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) nesta semana colocou em lados opostos os representantes das empresas Petz e Cobasi, que buscam aprovação da fusão entre as duas redes, e os defensores da Petlove e de entidades de direito do consumidor, que pedem maior rigor na análise do caso.
O processo é considerado o mais sensível em trâmite atualmente na autarquia antitruste e deve ser julgado em breve pelo Tribunal do Cade. Em junho, a Superintendência-Geral do órgão havia emitido parecer favorável à operação sem restrições, mas há tendência de revisão entre os conselheiros, que avaliam impor remédios concorrenciais antes da aprovação definitiva.
Segundo apuração do Valor Econômico, não há risco de reprovação total do negócio, mas as condições impostas podem alterar o formato da fusão.
Fusão cria gigante com faturamento de R$ 7 bilhões
Pelo acordo, os acionistas da Petz deterão 52,6% da nova empresa, enquanto os da Cobasi ficarão com 47,4%. A Petz será transformada em subsidiária da companhia combinada, que deverá atingir faturamento anual de cerca de R$ 7 bilhões, tornando-se a maior empresa do setor pet no país.
Na análise técnica inicial, o Cade considerou que o mercado deve ser visto de forma ampla e diversificada, incluindo não apenas grandes redes, mas também pet shops independentes, além de vendas digitais e marketplaces como os de supermercados. Essa definição foi decisiva para justificar o parecer de aprovação sem restrições, com base no argumento de que o setor mantém alto grau de competitividade.
O relator do caso no Tribunal é o conselheiro José Levi, que afirmou ao final da audiência que a avaliação ainda está em fase preliminar, sem antecipar posicionamento.
Empresas defendem eficiência e competitividade
Durante o debate, o economista Paulo Nassar, fundador da Cobasi, defendeu que a fusão não cria monopólio e apenas busca ganho de eficiência operacional.
“É um argumento falacioso falar em formação de monopólio”, afirmou. “O mercado é dinâmico, e a rivalidade é constante. Existem mais de 50 mil pet shops no Brasil competindo com as grandes redes.”
Nassar afirmou ainda que a integração das operações permitirá redução de custos e ampliação da oferta de produtos e serviços, o que, segundo ele, beneficiará o consumidor com preços menores e maior diversidade.
Na mesma linha, Sérgio Zimerman, CEO da Petz, argumentou que o avanço do comércio eletrônico e das plataformas de marketplace intensificou a concorrência no setor.
“Essas plataformas concorrem entre si e com as lojas físicas de forma cada vez mais forte. Esse efeito atinge todo o varejo, e o segmento pet não é exceção”, afirmou o executivo.
Petlove e entidades questionam concentração
A Petlove, terceira maior rede do país, contesta a operação e pede sua reprovação. O consultor técnico contratado pela empresa, Carlos Ragazzo — ex-superintendente-geral do Cade —, afirmou que Petz e Cobasi são as únicas rivais próximas e que as demais lojas menores “servem apenas a compras emergenciais”.
“O objetivo dessa fusão não pode ser outro senão aumentar preços, reduzir variedade e piorar a experiência do consumidor para ampliar a rentabilidade”, disse Ragazzo.
Entidades de defesa do consumidor também manifestaram preocupação com concentração de mercado e possível aumento de preços, apontando que o setor pet, embora crescente, tem sofrido com a redução da concorrência em grandes centros urbanos.
Expectativa de decisão e cenário setorial
O Tribunal do Cade deverá analisar o caso nas próximas semanas, avaliando eventuais restrições estruturais ou comportamentais à fusão.
Entre as possibilidades estão a venda de pontos comerciais, limitações contratuais ou compromissos de transparência para evitar abusos de poder econômico.
O resultado é aguardado com atenção pelo mercado, pois o desfecho poderá definir os rumos da consolidação do varejo pet no Brasil, um setor que movimenta bilhões de reais por ano e cresce impulsionado pelo aumento do número de animais de estimação e pela expansão do e-commerce.
Independentemente da decisão, o caso já se tornou marco na política concorrencial brasileira, ao expor o desafio de equilibrar ganhos de eficiência empresarial com a preservação da concorrência e do direito do consumidor.


