Audiência na Câmara aponta riscos da fusão entre Petz e Cobasi para preços e concorrência no mercado pet
Parlamentares, especialistas e representantes do setor alertam para aumento de preços, falência de pequenos negócios e impacto sobre o bem-estar animal
247 - Os possíveis impactos da fusão entre as gigantes do varejo pet Petz e Cobasi foram tema de intensos debates na audiência pública promovida nesta terça-feira (12) pela Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados. O encontro reuniu autoridades, especialistas, empresários e protetores de animais, todos preocupados com as consequências da operação para consumidores, empreendedores e o próprio bem-estar dos pets.
Presidindo a sessão, a deputada Gisela Simona criticou duramente a ausência de representantes das duas empresas, que haviam sido convocados a comparecer. “Seria o momento ideal e adequado para que as empresas pudessem se justificar perante aqueles que pagam suas contas no dia a dia: os consumidores brasileiros. Nossa preocupação é a clara noção de aumento de preços aos clientes, seja nas rações, medicamentos e demais insumos vendidos. Temos um risco de redução da concorrência, do acesso a produtos e serviços, além do risco do enfraquecimento do comércio local”, afirmou.
Especialistas alertaram que a fusão poderá gerar alta concentração de mercado e prejudicar pequenos e médios empreendedores. Juliana Pereira, presidente do Instituto de Pesquisas e Estudos da Sociedade e Consumo (IPS Consumo), destacou que operações desse porte tendem a asfixiar a concorrência. “Quero crer que o CADE vai estabelecer critérios objetivos de remédios para uma eventual aprovação de fusão. Não é uma operação qualquer, tem impactos muito fortes nos empreendedores, consumidores, pets e aqueles que trabalham na proteção dos animais”, advertiu.
O empresário Guilherme Davis, presidente da Companhia da Terra, lembrou que o próprio Conselho Administrativo de Defesa Econômica já reconheceu o risco de concentração excessiva no setor. Segundo ele, a soma do faturamento de Petz e Cobasi chegaria a R$ 7 bilhões, contra, no máximo, R$ 3,6 milhões obtidos por lojas menores. “Estou aqui não como CIA da Terra, mas como uma voz dos 20 a 30 mil pequenos empreendedores do setor”, disse, relatando que muitos lojistas têm receio de se manifestar contra a fusão.
Marília Martins, coordenadora do Instituto Caramelo, associou o possível aumento de preços à elevação dos casos de abandono animal. Segundo ela, famílias já enfrentam dificuldades para manter seus pets, e a fusão pode agravar o cenário. “Mesmo separadas, as empresas já apresentam uma postura monopolista na relação com a cadeia produtiva. A fusão é um risco para os nossos animais, que estão presentes em 72% dos lares brasileiros”, alertou.
A CEO da Petlove, Talita Lacerda, apresentou dados que apontam para uma concentração de 100% em 155 mercados brasileiros caso a fusão se concretize. “A probabilidade de um pet shop pequeno quebrar aumenta em 35% quando uma loja da Petz ou da Cobasi abre. Com preços maiores, as famílias têm limitação de orçamento e tiram itens da cesta. O futuro do mercado deve ser pautado pelo equilíbrio, concorrência e democratização do acesso a produtos e serviços”, defendeu.
Representantes da Associação Brasileira de Procons e da Secretaria Nacional do Consumidor também pediram atenção especial ao caso, ressaltando que a concorrência é um direito previsto no Código de Defesa do Consumidor. “O consumidor precisa ser informado para que possa exercer participação e ter de fato o exercício da liberdade de escolha”, pontuou Vitor Hugo, da Senacom.