Bancos assumem controle da InterCement em reestruturação bilionária de R$ 10 bilhões
Plano de recuperação judicial marca o fim da presença do grupo Camargo Corrêa no setor de cimento e transfere poder a um consórcio liderado pelo Bradesco
247 – A fabricante brasileira de cimento InterCement Brasil S.A., atualmente em recuperação judicial, apresentou em 5 de outubro um plano revisado de reestruturação de R$ 10 bilhões (US$ 1,8 bilhão) ao 1º Juízo de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, segundo informou o portal Brazil Stock Guide. O novo plano reflete um acordo preliminar com os principais credores financeiros e mantém as condições de pagamento aos fornecedores, garantindo a continuidade operacional da companhia.
A Assembleia Geral de Credores (AGC) está marcada para segunda-feira, 6 de outubro, em segunda convocação, quando será votada a proposta de reestruturação. O plano, além de redesenhar a estrutura de poder da empresa, retira o controle da Mover Participações S.A. — antigo grupo Camargo Corrêa — sobre a holding InterCement Participações (ICP), que passará a ser administrada por um consórcio de bancos e fundos de investimento.
Bradesco lidera a nova estrutura de poder
O Bradesco emerge como o principal protagonista da reestruturação. O banco, que tem cerca de R$ 3,2 bilhões em exposição à Mover, garantidos por ações da Motiva Energia (B3: CCRE3), liderou as negociações que resultaram, em julho, na venda da participação de 14,86% da Mover ao Bradesco BBI. Essa operação reduziu o endividamento da holding e abriu caminho para o atual plano de recuperação.
Com isso, o Bradesco encabeça o grupo de credores que assumirá o controle da governança e da execução financeira da InterCement. Fazem parte do consórcio doméstico BTG Pactual, Itaú BBA, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, enquanto o grupo internacional de credores reúne fundos como Ashmore Group, Gramercy, PIMCO, GoldenTree Asset Management, BlackRock e Franklin Templeton, detentores de títulos ICBV 5.75% Senior Notes 2024, no valor de US$ 750 milhões (R$ 3,9 bilhões).
O plano prevê também um aporte de R$ 2,5 bilhões em novo capital, por meio de uma rodada de financiamento garantido (“backstop”), parte do qual virá de bancos brasileiros, enquanto os fundos estrangeiros converterão parte da dívida em participação acionária na ICP. Essa conversão tornará os credores acionistas diretos da holding, consolidando sua posição como novo bloco controlador da produtora de cimento.
Reestruturação internacional e venda de ativos
O processo de reestruturação está sendo coordenado pelos escritórios White & Case LLP, Houlihan Lokey e E. Munhoz Advogados, abrangendo quatro jurisdições — Brasil, Estados Unidos (Chapter 15), Espanha e Holanda. A estrutura jurídica oferece proteção internacional contra execuções isoladas e autoriza a emissão de novas debêntures garantidas, além da venda parcial de ações da subsidiária argentina Loma Negra (NYSE: LOMA) para reforçar a liquidez.
Os recursos obtidos serão distribuídos conforme a prioridade definida no plano (“waterfall”), beneficiando primeiramente credores garantidos e investidores de novo capital.