Visita de Lula a Putin fortalece alianças no BRICS e não preocupa Trump, afirmam especialistas
Presença de Lula em Moscou reforça a aproximação do Brasil com Rússia e China, sem afetar diretamente as relações com os EUA
247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aceitou o convite do líder russo Vladimir Putin para participar de um encontro bilateral, além de prestigiar o desfile militar em Moscou, que celebra os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. A viagem ocorre em um momento de intensificação do papel geopolítico dos BRICS, bloco que conta com Brasil, Rússia, Índia, China e outros países, e é vista como uma estratégia de aproximação do Brasil com potências fora da órbita dos Estados Unidos. Segundo analistas ouvidos pela RFI, a viagem do presidente brasileiro reforça o bloco dos BRICS e não deverá resultar em atritos com o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Para os analistas, a escolha de Lula de participar das cerimônias na Rússia não é apenas simbólica, mas reflete um movimento mais amplo dentro da atual polarização mundial. A presença do Brasil ao lado de Vladimir Putin, em meio ao contexto da Guerra da Ucrânia, destaca a tentativa do governo brasileiro de redefinir sua posição no cenário internacional, em oposição ao modelo centrado nos Estados Unidos.
“Ao longo dos últimos anos, o Brasil parecia buscar uma posição neutra, de mediação. Porém, hoje o país tem se alinhado cada vez mais aos países dos BRICS, o que reflete uma mudança na sua postura geopolítica. O Brasil está se afastando das alianças tradicionais para se aproximar dessas novas potências”, afirmou Giovana Branco, doutoranda em Ciência Política pela USP e especialista em política russa, de acordo com a reportagem.
Ela destaca que o Brasil, ao estreitar laços com países como a Rússia e a China, se insere em um movimento que aponta para uma reconfiguração no poder internacional. Para ela, essa nova postura pode ser arriscada, pois pode alienar aliados históricos, especialmente enquanto os Estados Unidos se tornam mais agressivos em suas relações, até com seus próprios parceiros tradicionais. "Mas também não podemos ignorar que os Estados Unidos têm adotado uma postura mais firme, inclusive com seus aliados", disse Branco.
A professora de Relações Internacionais da Unifesp, Cristina Pecequilo, defende a decisão de Lula, apesar das críticas que podem surgir pela proximidade com Putin, um líder frequentemente acusado de autoritarismo. "O Brasil fez o que era certo. Não podemos abrir mão das nossas relações com a Rússia, que são fundamentais, tanto do ponto de vista econômico, como no contexto geopolítico", afirmou a especialista. Pecequilo também lembrou da importância da parceria entre os dois países nas áreas de fertilizantes e agrotóxicos.
Embora a relação entre o Brasil e a Rússia seja vista com desconfiança por muitos países europeus, a professora ressalta que a política internacional deve ser baseada em interesses estratégicos. "Hoje, até os Estados Unidos negociam com a Rússia. Então, a dinâmica está mudando, e é importante para o Brasil manter essas relações", completou.
Já William Gonçalves, professor da UERJ, avalia que a aproximação do Brasil com a Rússia não causa grandes preocupações nos Estados Unidos, especialmente em relação à presidência de Donald Trump. "Trump tem mais preocupação com a China do que com o Brasil. Ele tem repetido publicamente que a China invadiu a América Latina, e não há um temor direto sobre a relação Brasil-Rússia", afirmou Gonçalves.
Para ele, a crescente atenção dos Estados Unidos sobre a China e o BRICS está ligada à pressão sobre o sistema financeiro global, especialmente no que diz respeito à desdolarização. "O grande inimigo dos Estados Unidos é a China, e também o BRICS, que desafia a hegemonia norte-americana", disse o professor.
Pecequilo também ressaltou que, embora o movimento de Trump de se aproximar da Rússia tenha implicações importantes, ele não será capaz de reverter a relevância do BRICS. "A dinâmica global está em transformação, e o BRICS continuará sendo um pilar importante para a Rússia e para o Brasil, independentemente da posição dos Estados Unidos", concluiu a especialista.
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