Vaticano recebe vice-presidente norte-americano e cobra governo Trump sobre migrantes e guerras

Reuters - O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, foi ao Vaticano no sábado (19) para se encontrar com altos funcionários da Igreja Católica que têm criticado duramente as políticas de seu governo, nas primeiras conversas presenciais do segundo mandato de Donald Trump à frente da Casa Branca.

Vance, um católico que entrou em conflito com o Papa Francisco sobre a repressão à imigração do presidente dos EUA, Donald Trump, se encontrou com o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, e seu principal vice.

Os dois lados tiveram "conversas cordiais" que incluíram "uma troca de opiniões sobre a situação internacional", de acordo com uma declaração do Vaticano após a reunião.

Vance e Parolin falaram "especialmente sobre países afetados por guerras, tensões políticas e situações humanitárias difíceis, com atenção especial aos migrantes, refugiados e prisioneiros", diz o comunicado.

Francisco, que está limitando suas aparições públicas por ordem médica enquanto se recupera de uma pneumonia dupla, não participou da reunião. Vance está visitando a Itália no fim de semana da Páscoa.

O papa, Parolin e outras autoridades do Vaticano criticaram diversas políticas do governo Trump, incluindo os planos de Trump de deportar milhões de migrantes dos EUA e seus cortes generalizados em programas de ajuda externa e assistência social doméstica.

"Esta visita acontece em um momento delicado", disse Massimo Faggioli, acadêmico italiano da Universidade Villanova que acompanhou de perto o papado. "Esta relação com os EUA é uma prioridade muito alta para o Vaticano neste momento."

Francisco chamou a repressão imigratória do governo Trump de "vergonha". Vance, que se tornou católico em 2019, citou os ensinamentos católicos da era medieval para justificar a repressão imigratória.

O papa refutou o conceito teológico que Vance usou para defender a repressão em uma carta aberta incomum aos bispos católicos dos EUA sobre o governo Trump em fevereiro, e chamou o plano de Trump de uma "grande crise" para os EUA.

"O que é construído com base na força, e não na verdade sobre a igual dignidade de cada ser humano, começa mal e terminará mal", disse o papa então.

Relações igreja-estado

Vance visitou o Vaticano pela primeira vez na quinta-feira para participar de uma cerimônia religiosa na Basílica de São Pedro com sua família.

O braço de caridade mundial da Igreja Católica chamou os cortes de financiamento do governo Trump para programas de ajuda externa dos EUA de "catastróficos" em termos de seu impacto no mundo em desenvolvimento.

A conferência dos bispos católicos dos EUA anunciou este mês que, devido aos cortes do governo Trump, encerraria meio século de parcerias com o governo federal para fornecer serviços às populações migrantes e refugiadas.

Chieko Noguchi, porta-voz dos bispos dos EUA, disse à Reuters que Parolin, o cardeal do Vaticano, está "bem informado sobre os desafios enfrentados pela Igreja e suas instituições aqui" nos EUA.

"Rezamos para que a reunião resulte em um diálogo positivo e envolvente", disse ele.

A declaração do Vaticano disse que, durante o encontro de Vance e Parolin, "foi expressada a esperança de uma colaboração serena" entre a igreja e o governo dos EUA.

Reportagem de Joshua McElwee; Edição de Andrew Heavens