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Uso da IA Grok por equipe de Elon Musk no governo dos EUA levanta preocupações sobre conflito de interesses

Uso do chatbot desenvolvido pela xAI em órgãos federais pode violar leis de conflito de interesses e expor dados sensíveis de milhões de cidadãos

O bilionário do setor de tecnologia Elon Musk (Foto: Carlos Barria / Reuters)
Otávio Rosso avatar
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247 - A equipe do Departamento de Eficiência Governamental do governo  dos Estados Unidos (DOGE) está ampliando a aplicação da inteligência artificial Grok, com o objetivo de analisar grandes volumes de dados. A prática, no entanto, tem levantado preocupações jurídicas e éticas entre especialistas em privacidade e governança

Segundo três fontes ouvidas pela agência, o chatbot Grok — desenvolvido pela empresa xAI, fundada por Musk em 2023 — vem sendo usado por servidores e técnicos da DOGE em atividades de análise de dados federais. Uma das fontes afirmou que uma versão personalizada da IA tem sido utilizada para responder perguntas, gerar relatórios e realizar diagnósticos. “Eles fazem perguntas, pedem para preparar relatórios, fornecer análises de dados”, relatou a fonte.

A movimentação da equipe DOGE, que se apresenta como dedicada ao combate a desperdícios e fraudes no governo, estaria ocorrendo sem a devida autorização de órgãos como o Departamento de Segurança Interna (DHS), responsável por áreas sensíveis como controle de fronteiras, cibersegurança e imigração. Duas fontes afirmaram que houve instruções diretas para que funcionários do DHS utilizassem o Grok, mesmo sem aprovação oficial.

A Reuters não conseguiu confirmar o tipo de dado que foi alimentado no sistema ou detalhes técnicos da personalização da IA. Entretanto, especialistas alertam que o uso da ferramenta em bases de dados sigilosas do governo — que armazenam informações pessoais de milhões de americanos — pode violar leis de privacidade e segurança, além de representar uma vantagem indevida à xAI, empresa que também poderia lucrar com dados usados no treinamento do modelo.“O acesso que a DOGE já acumulou e a possibilidade de esses dados serem processados por uma IA como o Grok representam uma das ameaças mais sérias à privacidade que já vimos”, disse Albert Fox Cahn, diretor do Surveillance Technology Oversight Project, ONG que atua em defesa de direitos digitais.

A própria xAI admite em seu site que monitora os usuários do Grok para “fins comerciais específicos”. A empresa também afirma que o conhecimento da IA “deve ser abrangente e o mais amplo possível”, levantando suspeitas sobre a possível coleta ou reutilização de dados confidenciais.

Conflito de interesses e suspeitas de favorecimento

Outro ponto crítico apontado por especialistas é o possível conflito de interesses. Como CEO da Tesla, SpaceX e fundador da xAI, Musk pode ter acesso privilegiado a dados estratégicos do governo com potencial impacto financeiro. “A empresa tem um interesse comercial claro em ver seu produto adotado por funcionários públicos”, afirmou Cary Coglianese, professor de direito e ética pública na Universidade da Pensilvânia.

Richard Painter, ex-conselheiro de ética do governo George W. Bush, reforça a gravidade da situação: “Isso dá a aparência de que o DOGE está promovendo uma ferramenta para enriquecer Musk e sua empresa, e não para beneficiar o povo americano”. Caso Musk tenha atuado diretamente para promover o Grok, ele poderia ter violado uma lei criminal de conflito de interesses, que proíbe funcionários federais de atuarem em assuntos que possam gerar ganhos financeiros pessoais.

O Departamento de Segurança Interna nega que seus funcionários tenham sido pressionados a usar a ferramenta. “O DOGE não forçou nenhum funcionário a utilizar ferramentas ou produtos específicos”, disse um porta-voz do órgão.

Ainda assim, fontes ouvidas pela Reuters relataram que havia um esforço ativo dentro do DHS para disseminar o uso do Grok, incluindo promessas de expansão para outras áreas da burocracia federal. Também não se sabe se houve cobrança do governo pelo uso da ferramenta.

Monitoramento político e riscos adicionais

A equipe DOGE também teria tentado obter acesso a e-mails de servidores e estaria treinando sistemas de IA para identificar indícios de “deslealdade” à agenda política do presidente Trump. Tal prática, se confirmada, violaria normas do funcionalismo público que protegem servidores de perseguições políticas.

Em outro caso, trabalhadores de uma agência do Departamento de Defesa relataram ter sido informados sobre o monitoramento de suas atividades por meio de ferramentas algorítmicas. A agência não confirmou o uso do Grok, mas reconheceu que computadores do governo são passíveis de monitoramento conforme as políticas padrão de uso.

Atualmente, Musk ocupa o cargo de funcionário especial do governo, com permissão para atuar por até 130 dias. Ele declarou a investidores que reduzirá sua participação direta para apenas um ou dois dias por semana, mas que a equipe DOGE seguirá atuando mesmo com seu afastamento progressivo.

O uso não autorizado de ferramentas de IA no setor público americano vem sendo alvo de crescente escrutínio. Em 2024, o DHS havia autorizado o uso de plataformas como ChatGPT, Claude (da Anthropic) e Grammarly, mas suspendeu o acesso a essas IAs comerciais em maio após suspeitas de uso indevido com dados sensíveis.

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