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      Trump usa tarifas como arma pessoal e ameaça global, afirma Steven Levitsky

      Para cientista político de Harvard, presidente dos EUA age sem freios democráticos e tenta influenciar eleições no Brasil e em outros países

      Steven Levitsky (Foto: Reprodução/Youtube)
      Luis Mauro Filho avatar
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      247 - O segundo mandato do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, representa uma ameaça mais profunda à democracia global do que sua primeira passagem pela Casa Branca. A avaliação é do cientista político Steven Levitsky, professor da Universidade Harvard e coautor do livro Como as Democracias Morrem

      Em entrevista ao jornal Valor Econômico, publicada nesta terça-feira (29), Levitsky apontou que, com Trump novamente no poder, os EUA podem deixar de ser um pilar institucional e passar a irradiar instabilidade autoritária ao redor do mundo.

      "Se os EUA tiverem um governo abertamente autoritário, isso incentiva comportamentos autoritários em outros lugares", advertiu. Segundo ele, países da América Latina passaram a imitar a postura de Trump após sua recusa em reconhecer o resultado das eleições de 2020, o que contribuiu para a radicalização de líderes como Jair Bolsonaro, Keiko Fujimori e Javier Milei. "Trump é um admirador de ditadores e raramente demonstra qualquer tipo de compromisso com a democracia", afirmou o pesquisador.

      Tarifas como instrumento de intimidação

      Levitsky ressaltou que uma das formas mais claras de atuação política de Trump é o uso das tarifas de importação como arma de pressão. "Não há qualquer estratégia econômica por trás da política tarifária de Trump. Ele adora tarifas — e adora o fato de que, como chefe do Executivo, pode usá-las como uma arma contra outros governos", disse. Segundo o cientista político, essa prática não tem base técnica, tampouco respaldo entre empresários ou políticos, sendo usada "quase como para realizar uma fantasia pessoal".

      Nesse contexto, o Brasil figura entre os países que sofreram os impactos diretos dessa política. Levitsky destacou que Trump tem agido em apoio a Bolsonaro, chegando a tentar pressionar o sistema judiciário brasileiro com ameaças comerciais, mesmo sem conhecer as instituições do país. "Parece que a família de Jair Bolsonaro tem boas relações com o círculo íntimo de Trump", afirmou. "Trump acredita profundamente que houve uma conspiração para roubar dele a eleição de 2020. E ele está convencido de que Bolsonaro sofreu algo semelhante em 2022."

      Interferência nas eleições brasileiras

      A influência de Trump pode se manifestar diretamente no processo eleitoral brasileiro de 2026, segundo Levitsky. "Acho até que é provável que o governo Trump tente intervir em nome de — talvez não Bolsonaro, já que ele não pode concorrer —, mas de algum aliado dele", afirmou. Apesar disso, o professor considera que essa interferência terá limites: "Trump vai tentar. Só não tenho certeza de quão eficaz ele pode ser."

      Outro ponto sensível na relação entre os dois países é a acusação feita por Trump de que o governo Lula estaria promovendo censura contra plataformas digitais norte-americanas. Para Levitsky, esse é um debate legítimo nas democracias contemporâneas, que ainda estão ajustando os limites da liberdade de expressão diante do impacto das redes sociais. "Nos EUA, por exemplo, você não pode incitar pessoas à violência. Mesmo assim, os EUA são um caso extremo no aspecto libertário nesse debate", explicou.

      O avanço do populismo e a erosão do establishment

      O fortalecimento de movimentos populistas como o “Make America Great Again” (Maga), liderado por Trump, está diretamente ligado ao enfraquecimento do establishment político, analisa o cientista. A ascensão das redes sociais e a desintermediação da política facilitaram a chegada ao poder de líderes antissistema. "Hoje, é mais fácil ser um populista do que há 50 anos", observou. Como exemplo, citou Jair Bolsonaro, que, mesmo com poucos segundos de TV, superou candidatos com estrutura tradicional ao explorar o WhatsApp e o YouTube.

      Levitsky também alertou que o Partido Republicano foi “completamente tomado por Trump” desde sua primeira eleição. “Hoje, qualquer opositor de Trump, qualquer pessoa que se manifeste publicamente contra ele, é expulso do partido”, afirmou. "Num sistema bipartidário — como é o caso dos EUA —, se um dos partidos se volta contra a democracia, a democracia entra em sérios apuros."

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