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Trump lança “Semana do Anticomunismo” em ato político de exaltação ideológica

Proclamação da Casa Branca usa retórica da Guerra Fria para atacar o socialismo e reforçar discurso de extrema direita em pleno século XX

O presidente dos EUA, Donald Trump - 17/10/2025 (Foto: REUTERS/Jonathan Ernst)

247 – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou oficialmente a Semana do Anticomunismo de 2025, instituída entre os dias 2 e 8 de novembro, em uma proclamação publicada no site da Casa Branca (link original). Sob o pretexto de homenagear vítimas de regimes comunistas, o texto retoma o tom da Guerra Fria e faz um discurso ideológico que associa políticas sociais e movimentos progressistas à tirania e à repressão.

Na proclamação, Trump descreve o comunismo como “uma das ideologias mais destrutivas da história” e afirma que “mais de 100 milhões de vidas foram ceifadas por regimes que buscaram apagar a fé, suprimir a liberdade e destruir a prosperidade conquistada pelo trabalho”. O presidente apresenta a iniciativa como um ato de “defesa da liberdade e da dignidade humana”, mas o conteúdo do texto vai além da homenagem — funciona como uma reafirmação do seu projeto político de direita, centrado na ideia de que o Estado é sempre inimigo da liberdade individual.

Guerra ideológica em nome da “liberdade”

Trump usa a proclamação para atacar abertamente o que chama de “novas formas de tirania”, dirigindo críticas a movimentos contemporâneos que defendem justiça social e políticas públicas de redução das desigualdades. “Novas vozes agora repetem antigas mentiras”, escreveu o presidente, afirmando que correntes como o “socialismo democrático” convidam os cidadãos a “abrir mão da liberdade em troca do controle estatal”.

O texto retoma a velha retórica anticomunista que marcou a política norte-americana durante o século XX, ignorando as profundas diferenças entre experiências históricas de regimes autoritários e as atuais propostas de economia mista e bem-estar social defendidas por setores progressistas. Para Trump, contudo, qualquer iniciativa de fortalecimento do papel do Estado seria uma ameaça à “vontade e à consciência de um povo livre”.

Um gesto simbólico de polarização

Ao transformar a Semana do Anticomunismo em evento oficial, Trump reforça sua narrativa de confronto ideológico, buscando mobilizar sua base mais conservadora. O gesto ocorre num momento de forte polarização política dentro dos Estados Unidos, quando o presidente tenta consolidar sua liderança com um discurso que mistura religião, nacionalismo e anticomunismo.

A proclamação, assinada em 7 de novembro de 2025 — data simbólica, próxima ao aniversário da Revolução Russa —, também coincide com a celebração dos 250 anos da independência norte-americana. Trump aproveita o marco histórico para se apresentar como guardião da liberdade e opositor das ideias de esquerda, reafirmando que “o comunismo deve encontrar seu lugar na pilha de cinzas da história”.

Retórica do passado em um mundo em transformação

Analistas apontam que a iniciativa tem pouco impacto prático, mas grande valor simbólico. Ela reacende o discurso anticomunista como instrumento de mobilização política e tenta vincular adversários internos — especialmente democratas e movimentos sociais — a uma suposta ameaça global à liberdade.

Ao reviver fantasmas do século XX, Trump busca reposicionar os Estados Unidos no centro de uma cruzada ideológica contra o que define como “inimigos da liberdade”. A estratégia, porém, ignora o debate contemporâneo sobre desigualdade, clima e justiça social, temas que exigem soluções coletivas — e não a retórica do medo.

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