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Trump acena ao Brasil e diz que vai conversar com Lula em algum momento

Presidente dos EUA segue sua já conhecida tática de negociação: atacar para depois conversar

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - 6/7/2025 (Foto: REUTERS/Ken Cedeno)
Guilherme Levorato avatar
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(Reuters) - O governo brasileiro minimizou nesta sexta-feira o impacto da tarifa de 50% que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou impor às importações vindas do país, enquanto os líderes de ambas as nações expressaram uma disposição cautelosa de negociar no futuro.

Trump disse aos repórteres que poderia falar mais para frente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que anteriormente disse que buscaria uma solução diplomática, mas que retribuiria de forma recíproca se as tarifas entrassem em vigor em 1º de agosto, conforme prometido.

"Talvez em algum momento eu fale com ele. Agora não", disse Trump ao deixar a Casa Branca para visitar o Texas, devastado pelas enchentes, criticando novamente os processos judiciais do Brasil contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Os comentários de Trump foram feitos após Lula afirmar à TV Record na quinta-feira que "primeiro nós vamos tentar negociar, mas se não tiver negociação, a Lei da Reciprocidade será colocada em prática".

O governo brasileiro previu que as tarifas teriam pouco impacto sobre o crescimento econômico do país este ano, que espera chegar a 2,5%, já que apenas alguns setores específicos da indústria seriam duramente atingidos.

Mas uma autoridade da Casa Branca, que pediu para não ter seu nome revelado, disse à Reuters na quinta-feira que, como as novas tarifas, incluindo a do Brasil, são uma extensão das taxas anunciadas em abril, produtos energéticos como petróleo e minerais essenciais continuariam isentos.

O petróleo é o principal produto de exportação do Brasil para os Estados Unidos e, na quinta-feira, o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) permanecia incerto se a isenção que beneficiou a commodity continuaria. A embaixada dos EUA no Brasil não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

Os EUA também são um grande importador de produtos siderúrgicos brasileiros, celulose, café, suco de laranja e carne bovina -- produtos que, segundo o governo do Brasil, poderiam encontrar outros compradores globais.

"Considerando esse panorama, o impacto das tarifas tende a ser pouco significativo no crescimento de 2025, embora alguns setores da indústria de transformação possam ser especialmente prejudicados.", disse o Ministério da Fazenda em um relatório.

Entre eles estão o setor aeroespacial, com os EUA respondendo por uma grande parte das receitas da fabricante de aviões Embraer, e maquinário relacionado à energia.

NOVOS COMPRADORES

Lula já havia prometido encontrar novos compradores para os produtos brasileiros, dizendo que o país pode sobreviver sem os EUA.

O secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, disse aos repórteres que, mesmo que "alguns" efeitos sejam sentidos sobre o crescimento, eles não serão tão relevantes quanto antes, dizendo que o Brasil conseguiu diversificar seus parceiros comerciais nas últimas duas décadas.

Aproximadamente 12% das exportações do Brasil vão para os EUA, enquanto o principal parceiro comercial, a China, responde por cerca de 28%. Nesta sexta-feira, a potência asiática também criticou as tarifas impostas por Trump à maior economia da América Latina.

"Tarifas não devem ser usadas como uma ferramenta de coerção, intimidação ou interferência em outros países", disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, em uma coletiva de imprensa em Pequim.

Mas exportadores estavam preocupados com o impacto das novas tarifas de Trump. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) disse que as taxas tornariam "economicamente inviável" para o Brasil exportar carne bovina para os EUA.

Ainda assim, em uma carta a Lula na quarta-feira, Trump deixou poucas opções para o Brasil responder ao vincular as tarifas ao Judiciário do país, por conta do processo contra Bolsonaro, que está sendo julgado sob a acusação de planejar um golpe para impedir Lula de assumir o cargo em 2023.

Trump repetiu nesta sexta-feira sua defesa de Bolsonaro. "Eles estão tratando o presidente Bolsonaro de forma muito injusta", disse ele.

Em uma entrevista à TV Globo, Lula disse que achava a justificativa de Trump para as tarifas "um desaforo muito grande".

Lula disse que não podia aceitar que Trump estivesse pedindo o fim do processo contra um homem que "não tentou dar um golpe, ele tentou preparar a minha morte".

Bolsonaro nega ter cometido qualquer irregularidade.

(Reportagens de Nandita Bose e Doina Chiachu em Washington, Bernardo Caram em Brasília, Gabriel Araujo em São Paulo; reportagens adicionais de Shi Bu em Pequim, Jarrett Renshaw em Washington, Rodrigo Campos em Nova York e Fernando Cardoso em São Paulo)

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