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      Suíça deixa Washington sem acordo e enfrentará tarifa de 39% dos EUA

      Presidente Karin Keller-Sutter não se encontrou com Trump e volta sem concessões para evitar impacto sobre exportações suíças

      A presidente suíça, Karin Keller-Sutter, fala com a imprensa após uma coletiva de imprensa, após se reunir em reuniões bilaterais separadas com as delegações chinesa e americana antes das negociações comerciais em Genebra, Suíça, em 9 de maio de 2025 (Foto: REUTERS/Denis Balibouse)
      Luis Mauro Filho avatar
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      WASHINGTON/ZURIQUE, 6 de agosto (Reuters) – A presidente da Suíça, Karin Keller-Sutter, deixou Washington de mãos vazias nesta quarta-feira após uma viagem organizada às pressas para tentar impedir a aplicação de uma tarifa de 39% sobre as exportações suíças para os Estados Unidos — seu maior mercado, segundo três fontes com conhecimento do assunto.

      Keller-Sutter afirmou ter tido uma “reunião muito boa” com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. No entanto, uma das fontes informou que ela não se encontrou com o presidente norte-americano Donald Trump nem com autoridades de alto escalão da área comercial.

      A presidente buscava negociar uma tarifa de 10%, proposta rejeitada pelas autoridades norte-americanas, segundo essa fonte. A mesma pessoa acrescentou que a maioria dos países está enfrentando tarifas muito mais altas e que a redução do déficit comercial dos EUA continua sendo a prioridade de Trump.

      Segundo uma fonte suíça familiarizada com as discussões, Washington estaria interessado em ampliar suas exportações de energia e defesa para a Suíça. Em troca, os suíços buscam a redução de tarifas sobre bens vendidos aos EUA, que são grandes compradores de relógios, máquinas e chocolates suíços.

      Trump havia anunciado em abril uma tarifa de 31% para produtos suíços como parte de sua campanha para reorganizar o comércio global. Na semana passada, porém, aumentou a alíquota para 39%.

      “Hoje tivemos uma reunião muito boa. Tivemos uma troca muito amigável e aberta”, disse Keller-Sutter a jornalistas após o encontro no Departamento de Estado, em Washington. Ela não respondeu à pergunta sobre novas ofertas que a Suíça estaria disposta a fazer. A tarifa mais alta entra em vigor nesta quinta-feira.

      Mais tarde, nas redes sociais, Keller-Sutter escreveu que discutiu com Rubio a cooperação bilateral, a situação das tarifas e temas internacionais.

      Uma fonte próxima à delegação suíça informou que a comitiva já se preparava para deixar Washington sem um acordo, e que o gabinete do país deverá se reunir entre quinta ou sexta-feira.

      “Viemos com a intenção de apresentar novas ideias ao governo americano para resolver a questão tarifária, o que fizemos”, afirmou essa fonte. “Estamos prontos para que as negociações continuem.”

      A decisão de Trump, na semana passada, de aplicar uma das tarifas mais altas desde o início da reconfiguração do comércio global pegou a Suíça de surpresa e ameaça causar danos severos à sua economia fortemente exportadora.

      Keller-Sutter e o ministro da Economia, Guy Parmelin, voaram para Washington na terça-feira, em uma tentativa de última hora para tentar evitar a entrada em vigor da tarifa de 39%.

      De acordo com uma das fontes, novas rodadas de conversas seguem possíveis, mesmo depois de a tarifa começar a valer.

      Parmelin já havia sugerido que a Suíça poderia comprar gás natural liquefeito dos EUA como forma de obter um acordo melhor.

      No mês passado, a União Europeia garantiu uma tarifa de 15% em troca de um acordo com Washington que inclui a compra de US$ 750 bilhões em gás natural liquefeito, petróleo e produtos de energia nuclear ao longo dos próximos três anos.

      Embora a UE não tenha feito uma promessa formal de adquirir mais armamentos dos EUA, indicou aos negociadores americanos que os fornecedores do país se beneficiariam com o aumento dos gastos com defesa, em linha com os compromissos assumidos na OTAN sob pressão de Trump.

      Essas concessões, juntamente com um compromisso de aumentar os investimentos nos EUA, foram consideradas decisivas para o fechamento do acordo, segundo uma fonte familiarizada com as negociações entre EUA e UE.

      A Suíça já compra equipamentos militares dos EUA e fez um pedido de 6 bilhões de francos suíços (US$ 7,43 bilhões) para adquirir caças F-35A Lightning II da Lockheed Martin.

      Embora o governo suíço afirme estar concentrado em melhorar sua oferta a Washington e não planeje medidas retaliatórias, alguns políticos no país têm defendido o cancelamento do contrato dos F-35 devido à disputa comercial.

      Impacto econômico iminente

      Mais cedo nesta quarta-feira, Keller-Sutter e sua equipe se reuniram com empresários suíços, entre eles o presidente da Roche, Severin Schwan, e os fundadores da gestora Partners Group, Alfred Gantner e Marcel Erni. Também participou do encontro Daniel Jaeggi, presidente da empresa global de energia e commodities Mercuria.

      O grupo discutiu a situação das tarifas, informou o governo suíço, sem fornecer mais detalhes.

      Outros encontros ainda estão previstos com executivos de empresas suíças que atuam nos Estados Unidos. Associações empresariais alertam que dezenas de milhares de empregos suíços podem estar ameaçados se a tarifa de 39% for aplicada.

      Fabricantes de queijo, por exemplo, esperam uma queda acentuada nas vendas para os EUA, que responderam por 11% das exportações suíças de queijos como Gruyère e Emmental no ano passado.

      “Os impostos são enormes”, disse Anthony Margot, produtor de queijos da quinta geração de sua família. “Não podemos substituir um mercado como os Estados Unidos da noite para o dia.”

      O índice suíço de referência, Swiss Market Index, caía 1% nas negociações da tarde desta quarta-feira.

      Após conversas com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, a Suíça havia chegado a um esboço de declaração conjunta com os EUA no início de julho, que incluía uma tarifa de 10%.

      No entanto, Trump voltou atrás na sexta-feira, após o que autoridades americanas descreveram como uma ligação telefônica difícil com Keller-Sutter. Fontes suíças confirmaram que a ligação não foi bem-sucedida, mas negaram qualquer ruptura entre os dois líderes.

      Durante sua visita, a presidente suíça não se encontrou com Greer, Bessent nem com o secretário de Comércio, Howard Lutnick, informou uma das fontes à Reuters.

      Cotação: US$ 1 = 0,8080 francos suíços

      Reportagem adicional de Dave Graham e Manuel Ausloos. Edição de Miranda Murray, Joe Bavier e Nia Williams

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