Sheinbaum reafirma que tropas dos EUA “jamais pisarão” em território mexicano
Presidente do México reage a plano secreto de Trump contra cartéis e diz que país “nunca colocará sua independência em risco”
247 - A presidente do México, Claudia Sheinbaum, declarou nesta segunda-feira (11) que não permitirá qualquer presença de forças armadas dos Estados Unidos em território mexicano, em resposta a notícias de que o presidente norte-americano Donald Trump assinou uma diretriz secreta para autorizar operações militares contra cartéis da América Latina. A informação foi publicada pelo Financial Times.
Sheinbaum afirmou que “o México é um país livre, soberano e independente” e rejeitou de forma categórica a hipótese de intervenção terrestre. “Jamais colocaremos nossa soberania em risco, nunca colocaremos a independência do México em risco”, declarou.
As declarações ocorrem em meio a uma escalada de tensão bilateral. Desde o início de seu segundo mandato, Trump classificou oito cartéis mexicanos como organizações terroristas, abrindo espaço legal para ações militares. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou na semana passada que os grupos “possuem armamentos comparáveis aos de terroristas e, em alguns casos, de exércitos”, o que justificaria o uso de “outros elementos do poder americano, como as agências de inteligência e o Departamento de Defesa”.
O governo mexicano tem mantido negociações complexas com Washington sobre comércio, segurança e migração. Apesar das pressões, o México obteve condições comerciais mais favoráveis que a maioria dos países, com grande parte de suas exportações isentas de tarifas pelo acordo USMCA (entre EUA, México e Canadá). No entanto, o discurso agressivo de Trump — que acusou Sheinbaum de “temer tanto os cartéis que não consegue pensar direito” — reforça a tensão diplomática.
A presidente já havia recusado, no início do ano, uma oferta de assistência militar direta dos EUA para enfrentar os cartéis. Sua postura firme diante das ameaças norte-americanas impulsionou sua aprovação popular para acima de 70%. Analistas de segurança no México alertam, porém, que o maior risco pode vir de ataques aéreos com drones, e não de tropas no solo — cenário sobre o qual Sheinbaum não se pronunciou diretamente.
“Mantemos colaboração e coordenação em questões de segurança e outros assuntos, mas nunca nos subordinamos, e jamais, em hipótese alguma, permitiremos que o Exército dos Estados Unidos ou qualquer outra instituição norte-americana pise em território mexicano”, reforçou a presidente.
Apesar da interdependência econômica entre os dois países — com os EUA sendo o principal parceiro comercial do México —, a relação é marcada por um histórico conflituoso que inclui a perda de cerca de metade do território mexicano em uma guerra no século XIX. Sheinbaum endureceu o combate ao narcotráfico em comparação ao seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador, mas enfrenta pressão interna para investigar possíveis vínculos entre autoridades do seu partido e o crime organizado.