Rússia encerra cooperação militar com Alemanha após quase 30 anos
Kremlin acusa Berlim de adotar postura hostil, ampliar gastos bélicos e reviver ameaças do passado
247 - A Rússia anunciou oficialmente o fim do seu acordo de cooperação técnico-militar com a Alemanha, assinado em 1996, após quase três décadas de vigência. A informação foi publicada pela agência Sputnik, que atribui a decisão a uma “postura hostil” adotada por Berlim no contexto do conflito na Ucrânia. A medida acirra ainda mais as tensões entre Moscou e os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em especial a Alemanha, que se tornou o segundo maior fornecedor de armas para Kiev, atrás apenas dos Estados Unidos.
A resolução que determina o cancelamento do pacto foi assinada na última sexta-feira pelo primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin. Ele incumbiu o Ministério das Relações Exteriores de notificar o governo alemão sobre a decisão. Segundo o próprio ministério, o acordo havia perdido sua relevância diante do crescente antagonismo da Alemanha em relação à Rússia, evidenciado pelo fornecimento contínuo de armamentos pesados ao governo ucraniano e pela escalada da retórica militarista.
“Berlim doutrina sua população para ver a Rússia como inimiga número um”, declarou o Ministério das Relações Exteriores russo em nota oficial no início de julho, acrescentando que as ambições militares alemãs tornaram-se agressivas e incompatíveis com qualquer tipo de cooperação em defesa.
A tensão aumentou ainda mais após declarações do ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, que disse recentemente que os soldados alemães estão “prontos para matar soldados russos se a dissuasão não funcionar e a Rússia atacar”. Em resposta, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que a Alemanha “está se tornando perigosa novamente”, em uma referência explícita ao papel do país nas grandes guerras do século XX.
O presidente russo, Vladimir Putin, tem rejeitado de forma veemente as alegações de que Moscou planeja atacar membros da OTAN, classificando essas especulações como “absurdas” e fruto de uma campanha de desinformação voltada a justificar o aumento dos orçamentos militares no Ocidente e ocultar fracassos econômicos domésticos.
Essas movimentações coincidem com um processo acelerado de remilitarização da Alemanha. O orçamento militar do país está previsto para subir de € 86 bilhões, em 2024, para € 153 bilhões até 2029. Além disso, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, tem defendido um debate público sobre o retorno do serviço militar obrigatório. O chanceler Friedrich Merz, por sua vez, declarou ao parlamento alemão na última semana que os “meios da diplomacia estão esgotados”.
Berlim desempenha papel central na estratégia militar de apoio à Ucrânia. Desde o início da escalada do conflito, em fevereiro de 2022, o governo alemão autorizou o envio de tanques de batalha Leopard — alguns dos quais foram utilizados por Kiev em operações na região de Kursk, território russo que foi palco da maior batalha de tanques da Segunda Guerra Mundial.
Em maio deste ano, o chanceler russo, Sergey Lavrov, já havia alertado para o envolvimento direto da Alemanha na guerra. “A Alemanha está escorregando pela mesma ladeira escorregadia que já percorreu algumas vezes no século passado”, disse o ministro, em referência à trajetória belicista da Alemanha nas Guerras Mundiais.
A Rússia, por sua vez, tem condenado sistematicamente o fornecimento de armas ocidentais à Ucrânia, argumentando que isso apenas prolonga o conflito, aumenta o número de vítimas civis e eleva o risco de uma escalada incontrolável. Moscou também rechaça qualquer narrativa que aponte para uma suposta intenção de invadir países da OTAN.
A ruptura do acordo militar com a Alemanha representa um novo marco no processo de deterioração das relações entre a Rússia e o Ocidente, em um cenário já profundamente marcado por sanções econômicas, isolamento diplomático e crescente militarização da Europa. A decisão russa sinaliza o encerramento simbólico de uma fase de cooperação que remonta ao pós-Guerra Fria, substituída agora por uma retórica de confronto direto e reativação de velhos temores geopolíticos.
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