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Rússia cobra respostas dos EUA sobre Ucrânia e alerta para risco nuclear

Vice-chanceler Sergey Ryabkov diz que Moscou reagirá a testes nucleares americanos e critica militarização europeia em meio a tensões globais

Sergey Ryabkov, vice-ministro russo das Relações Exteriores (Foto: TASS/MRE da Rússia )

247 - A Rússia mantém questionamentos relevantes aos Estados Unidos sobre a guerra na Ucrânia, mas avalia que o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adotou recentemente algumas medidas consideradas positivas no relacionamento bilateral. A avaliação foi feita pelo vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Ryabkov, durante um debate do Clube Valdai, em Moscou, no qual ele abordou temas centrais da política internacional, segurança estratégica e o risco de escalada nuclear.

As declarações de Ryabkov foram compiladas pela agência estatal russa TASS, que reuniu os principais pontos da intervenção do diplomata, incluindo críticas à postura do Ocidente, alertas sobre armas nucleares e avaliações sobre o futuro das relações entre Moscou e Washington.

Ao tratar das relações com os Estados Unidos, Ryabkov afirmou que, apesar de avanços pontuais, o caminho para uma normalização plena ainda será longo. Segundo ele, a reaproximação entre os dois países “exigirá muito tempo, um desejo genuíno de ambos os lados e um trabalho imenso”. O vice-chanceler também demonstrou preocupação com a estratégia do Pentágono de buscar superioridade militar global, observando: “Temos algumas preocupações”.

No campo da segurança estratégica e do controle de armas, Ryabkov destacou que a liderança russa definirá os “parâmetros específicos” de uma eventual resposta às ameaças relacionadas à implantação, pelo Ocidente, de mísseis de alcance intermediário e curto. Ele também alertou para a crescente coordenação nuclear entre França e Reino Unido, que, segundo suas palavras, avançam “para um novo nível de coordenação nuclear, que inclui o planejamento nuclear conjunto e, consequentemente, a possibilidade de uso de armas nucleares por estes dois países sob um plano único”.

O diplomata enfatizou que Moscou considera estar preparada para proteger seus interesses estratégicos. “A Rússia está objetivamente preparada para garantir a sua segurança nacional, principalmente através da melhoria da fiabilidade e eficácia da nossa dissuasão e, consequentemente, da manutenção de um equilíbrio estratégico através da adoção de contramedidas técnico-militares”, declarou.

Ryabkov foi direto ao tratar da possibilidade de retomada de testes nucleares pelos Estados Unidos. Segundo ele, Moscou não descarta responder de forma equivalente. “Se estivermos falando do retorno dos Estados Unidos aos testes explosivos de armas nucleares em larga escala, reservamo-nos o direito de reagir da mesma forma”, afirmou. Ele também observou que Washington ainda não respondeu a uma proposta russa para manter limites quantitativos centrais após o fim do Tratado sobre a Redução e Limitação de Armas Ofensivas Estratégicas, ressaltando: “Ainda não houve uma reação substancial dos Estados Unidos à nossa iniciativa”.

Ao comentar a postura política dos países ocidentais, Ryabkov criticou a União Europeia, acusando o bloco de demonstrar um “desejo persistente” de impedir uma convergência entre Rússia e Estados Unidos sobre uma solução para o conflito na Ucrânia. Ele avaliou que as ações do Ocidente levaram a estabilidade estratégica “à beira do abismo, seguida por uma descida para uma escalada difícil de controlar e um conflito armado direto entre a Rússia e a OTAN”.

O vice-ministro também condenou o que chamou de programas de “remilitarização em larga escala” lançados por países europeus, justificadas, segundo ele, por uma suposta ameaça russa. “Por mais selvagem que possa parecer, a psicose pré-guerra é maliciosamente alimentada por apelos, cito quase literalmente, ‘para se preparar para uma guerra em larga escala, semelhante àquela em que nossos avós lutaram’”, disse.

Ryabkov rejeitou de forma categórica a ideia de que a Rússia planeje atacar países da União Europeia ou da OTAN. “A Rússia não persegue os objetivos conquistadores atribuídos ao nosso país. A obsessão maníaca dos países da UE com a quimera de um ataque iminente contra eles por parte da Rússia é motivo de séria preocupação”, afirmou. Mesmo diante de uma política americana que ele considera mais equilibrada, o diplomata advertiu que os riscos de confronto permanecem devido às “ações hostis inadequadas dos países europeus”.

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