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Revisão dos dados de emprego nos EUA mostra queda de 911 mil postos de trabalho

A revisão histórica dos dados de empregos levanta dúvidas sobre a integridade das estatísticas e coloca pressão sobre o Federal Reserve para reduzir juros

A sinalização de uma feira de empregos é vista na 5ª Avenida após a divulgação do relatório de empregos em Manhattan, Nova York, EUA, em 3 de setembro de 2021 (Foto: REUTERS/Andrew Kelly)

247 - O Bureau of Labor Statistics (BLS) dos Estados Unidos revisou os números de empregos de março de 2025, reduzindo a estimativa de crescimento do mercado de trabalho em 911.000 postos, ou 0,6%. Esse ajuste, o maior já registrado, foi divulgado em 9 de setembro e está gerando uma série de reações políticas e econômicas. A revisão, que será finalizada no início de 2026, mostra que a recuperação do emprego no país foi menos robusta do que o inicialmente apontado. A reportagem é da Bloomberg.

De acordo com a revisão preliminar, enquanto os dados do BLS antes da correção indicavam que 1,8 milhão de empregos foram adicionados no ano até março, com uma média de 149.000 postos de trabalho por mês, a revisão mostrou que o crescimento mensal foi cerca de metade desse número. A medida coloca uma pressão significativa sobre o Federal Reserve, que já havia sinalizado a possibilidade de uma redução nas taxas de juros, com o mercado financeiro aguardando um corte após a reunião de 17 de setembro.

"Os dados do BLS indicam que o mercado de trabalho estava consideravelmente mais fraco do que o inicialmente estimado no ano até março de 2025, fornecendo mais um motivo para o Fed cortar os juros na próxima reunião", afirmou Sal Guatieri, economista sênior do BMO Capital Markets.

O impacto dessa revisão é sentido em praticamente todos os setores e estados, com destaque para as quedas em indústrias como atacado e varejo, lazer e hospitalidade, além de serviços profissionais e de negócios. A revisão detalha que o crescimento mais modesto do emprego nos últimos meses pode indicar uma desaceleração econômica maior do que o previsto.

Reações políticas e críticas à integridade dos dados

A revisão histórica gerou uma série de reações políticas, especialmente em relação à administração do presidente Joe Biden. Karoline Leavitt, porta-voz da Casa Branca, afirmou que "o BLS liberou a maior revisão para baixo já registrada, provando que o presidente Trump estava certo: a economia de Biden foi um desastre e o BLS está quebrado". Ela ressaltou que isso demonstra a necessidade de uma nova liderança para restaurar a confiança nos dados do governo.

Embora o ex-presidente Donald Trump tenha sido crítico das revisões, ele também se beneficiou desse processo durante seu governo. Na época, o presidente chegou a demitir o chefe do BLS após outra grande revisão dos dados de emprego, que ele usou para questionar a integridade das estatísticas da administração de Joe Biden. A porta-voz do Departamento de Trabalho, Lori Chavez-DeRemer, disse que o erro nos dados de empregos "não pode ser tolerado, pois tais dados servem de base para previsões econômicas e decisões políticas significativas".

A importância das revisões e a percepção pública

As revisões de dados de emprego são uma prática comum do BLS, realizada anualmente para corrigir estimativas com base em dados mais precisos, como os registros de impostos sobre o seguro-desemprego. No entanto, o grande ajuste gerou um debate sobre a confiabilidade dessas revisões, especialmente em um contexto pós-pandemia, no qual a dinâmica do mercado de trabalho é considerada atípica.

Economistas como Joseph Brusuelas, chefe de economia da RSM US LLP, argumentam que, embora a revisão seja substancial, seu impacto no conjunto da economia não é tão significativo. “Em uma economia com 163,3 milhões de trabalhadores, uma revisão para baixo de 911.000 empregos distribuída ao longo de 12 meses não é tão grande do ponto de vista quantitativo”, afirmou Brusuelas.

Por outro lado, a discrepância nos dados iniciais pode ser explicada por uma série de fatores, incluindo o modelo de "nascimento-morte" usado pelo BLS, que ajusta os dados com base no número líquido de empresas abertas e fechadas. Esse modelo pode não refletir adequadamente as condições do mercado pós-pandemia, quando muitas empresas começaram a operar sem o devido registro formal.

Com a revisão em andamento, será necessário acompanhar os dados futuros, que podem fornecer uma visão mais precisa sobre a trajetória do mercado de trabalho e as possíveis decisões do Federal Reserve.

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