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      Representante comercial dos EUA defende novo protecionismo e ataca multilateralismo global

      Jamieson Greer exalta tarifas unilaterais impostas por Trump e culpa a OMC por fracassos causados pelas elites financeiras dos próprios EUA

      O presidente dos EUA, Donald Trump - 22/07/2025 (Foto: REUTERS/Kent Nishimura)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – Em artigo publicado nesta quinta-feira (8) na Folha de S.Paulo, o atual representante comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, apresenta uma defesa enfática da guinada protecionista liderada pelo presidente Donald Trump. Intitulado “Por que refizemos a ordem global”, o texto transforma em doutrina oficial o abandono do multilateralismo, a deslegitimação da OMC e a imposição de tarifas como instrumento central da política externa americana.

      A retórica de Greer não apenas revisita com nostalgia o acordo de Bretton Woods, como tenta justificar a substituição do sistema global baseado em regras por uma nova arquitetura fundada em força econômica e chantagem tarifária. “O privilégio de vender no mercado consumidor mais lucrativo do mundo é uma poderosa cenoura”, afirma, em uma metáfora que revela o espírito de coerção que move a chamada “Rodada Trump”.

      A distorção histórica das causas da desindustrialização

      Ao longo do artigo, Greer sustenta que os Estados Unidos “pagaram” pela ordem global com a perda de empregos industriais e de segurança econômica. Para ele, o sistema multilateral beneficiou países como a China — com suas estatais e planos quinquenais — enquanto minou a indústria americana. Mas o argumento ignora uma realidade evidente: a desindustrialização nos EUA foi promovida pelas próprias elites econômicas americanas, que lucraram com a transferência da produção para países de baixo custo de mão de obra.

      Não foram a OMC nem os tratados multilaterais que fecharam fábricas em Detroit ou Ohio, mas sim a busca deliberada de lucros pelas corporações americanas, com o aval de políticas neoliberais que enfraqueceram sindicatos, desmontaram a política industrial e desinvestiram em infraestrutura e educação técnica.

      Do consenso ao confronto: uma doutrina de guerra comercial permanente

      A nova doutrina defendida por Greer rejeita explicitamente os mecanismos multilaterais de resolução de controvérsias. Em vez disso, propõe uma lógica punitiva de retaliação tarifária imediata para casos de “não conformidade”. Países como Indonésia, Vietnã e Coreia do Sul são citados como exemplos de sucesso, ao aceitarem tarifas elevadas e mudanças regulatórias em troca de acesso ao mercado americano.

      Essa abordagem, porém, rompe com os princípios básicos da cooperação internacional. Em vez de promover estabilidade, previsibilidade e desenvolvimento compartilhado, a estratégia americana busca transformar o comércio global em uma disputa de força, subordinando parceiros e erodindo espaços de soberania econômica.

      O silêncio sobre os impactos sociais e geopolíticos

      Greer celebra os acordos bilaterais como vitórias estratégicas. Cita promessas de investimentos superiores a US$ 1 trilhão e compromissos de compra de produtos americanos em setores como energia, defesa e agricultura. Mas ignora completamente os efeitos colaterais: a alta de preços para consumidores, o risco de escalada inflacionária em países parceiros, a exclusão de nações mais pobres e o aumento das tensões geopolíticas.

      Além disso, a ênfase em cadeias produtivas “controladas” e “seguras” pode, na prática, significar o isolamento tecnológico e o bloqueio de países que não se alinhem à lógica dos interesses estratégicos de Washington.

      Uma cartilha protecionista em pleno século XXI

      Ao usar a Folha como tribuna para apresentar a “nova ordem” comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer escancara a transformação do sistema global de comércio em um projeto unipolar, autoritário e excludente. A retórica de reindustrialização esconde, na verdade, um projeto de poder que coloca a força tarifária acima do diálogo multilateral e compromete a construção de um mundo mais equilibrado.

      A “Rodada Trump” não é uma resposta a um mundo fraturado — é uma receita para aprofundar as divisões. E a omissão das responsabilidades internas dos EUA nesse processo revela o objetivo principal: culpar o mundo pelos próprios fracassos.

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