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Produção de petróleo de xisto dos EUA desacelera e executivos admitem pico da exploração

Sob impacto dos baixos preços e com campos envelhecendo, empresas reduzem investimentos e preveem queda já em 2026

Plataformas de perfuração operam ao pôr do sol em Midland, Texas, EUA, 13 de fevereiro de 2019 (Foto: REUTERS/Nick Oxford)
Luis Mauro Filho avatar
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247 - A produção de petróleo de xisto nos Estados Unidos parece ter atingido seu auge. A constatação parte de executivos do setor, que agora freiam investimentos diante de preços deprimidos e de um cenário de esgotamento gradual das reservas mais lucrativas. A informação foi divulgada originalmente pelo Wall Street Journal.

Mesmo com o presidente Donald Trump no segundo mandato e mantendo o discurso de apoio irrestrito à indústria de óleo e gás, a produção de xisto, que alçou os EUA à liderança global no setor, deve sofrer a primeira queda anual desde a pandemia, segundo estimativas da S&P Global Commodity Insights. Após leve crescimento em 2025, motivado por operações offshore, a produção total cairá 1% em 2026, alcançando 13,33 milhões de barris diários — o que representa uma reversão inédita em quase uma década.

A desaceleração já se reflete nas decisões estratégicas das principais petrolíferas. A Diamondback Energy, uma das gigantes do setor, informou que vai reduzir seus investimentos em 2025. "Acreditamos que estamos em um ponto de inflexão para a produção de petróleo dos EUA, dados os preços atuais das commodities", afirmou o CEO da empresa, Travis Stice, em carta a acionistas.

Preço baixo, campo maduro

O preço do barril caiu para US$ 62,49 após a imposição de tarifas comerciais por Trump em abril, o que representa uma retração de cerca de 13% e coloca a cotação, em valores ajustados pela inflação, entre as mais baixas da história. "Em termos reais, os preços atuais estão entre os menores já registrados", disse Paul McKinney, presidente da Ring Energy, que atua na Bacia do Permiano, a mais produtiva do país. Segundo ele, o valor ideal para incentivar a perfuração seria de US$ 85 por barril.

Com a maior parte dos lucros sendo direcionada a acionistas, o setor reluta em reinvestir agressivamente na exploração. O próprio Stice admitiu que a recomposição da produção exigiria “um esforço de capital possivelmente incompatível com o modelo de negócios atual”.

Essa contenção de investimentos ocorre em um momento em que a produtividade dos campos de xisto se aproxima de seu limite técnico. Desde 2017, o crescimento médio anual da produção na Bacia do Permiano era superior a 630 mil barris por dia, mas nos últimos 12 meses, esse número caiu para menos de 200 mil. Outros campos importantes, como o Bakken, na Dakota do Norte, e o Eagle Ford, no Texas, ainda não recuperaram o fôlego desde o impacto da pandemia em 2020.

Estoques de qualidade estão no fim

As reservas de alta performance também estão se esgotando. Segundo a FLOW Partners, a EOG Resources — uma das pioneiras na exploração do xisto — só dispõe de três a quatro anos de inventário de poços de alta produtividade. A empresa tem buscado acordos em terras privadas, mas a reposição desse portfólio pode demandar aquisições de concorrentes. "A fusão e aquisição corporativa é a solução para esse problema", avaliou Tom Loughrey, presidente da FLOW.

A EOG recusou-se a comentar oficialmente, mas vem expandindo suas operações no exterior. Recentemente, a empresa assinou um acordo com a Bapco Energies, do Bahrein, para avaliar um projeto de exploração de gás no país. A Continental Resources, outra veterana do setor, também vem buscando alternativas fora dos EUA: anunciou parceria com a Turkish Petroleum para explorar reservas em território turco.

Fim da era do boom?

Em apenas 15 anos, a revolução do xisto adicionou 8 milhões de barris diários à produção norte-americana, reduzindo drasticamente a dependência do petróleo estrangeiro e barateando o combustível para os consumidores. No entanto, analistas alertam que grande parte dos ganhos em eficiência já foi realizada, e o futuro da indústria dependerá, cada vez mais, de inovações tecnológicas ou de altas sustentadas nos preços globais.

A consultoria Rystad Energy já revisou para baixo sua projeção de crescimento para 2025, cortando 150 mil barris diários do volume esperado. Para Amber McCullagh, analista da Rystad, as empresas que mantiverem os cortes de gastos terão dificuldade para sustentar os atuais níveis de produção a partir de 2026. "O primeiro ajuste evidente será a redução das ambições de crescimento no Permiano", observou.

O novo ciclo parece confirmar um ponto de virada: mesmo com menos regulações e apoio institucional, o esgotamento físico e econômico das reservas começa a se impor como limite natural à era do petróleo de xisto nos Estados Unidos.

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