Companhias dos EUA, Europa e China retiram projeções por medo do impacto tarifário
Mesmo com lucros acima do esperado, companhias dos EUA, Europa e China adotam tom pessimista diante da ofensiva comercial liderada por Trump
247 - Um dos principais recados deixados pela temporada de balanços do primeiro trimestre é que o clima de incerteza econômica está pesando mais do que os lucros, mesmo com os mercados acionários em alta.
Conforme reportado pela Bloomberg, empresas dos Estados Unidos, Europa e China têm revisado ou simplesmente retirado suas projeções para 2025, apontando o aumento de custos, a deterioração da confiança do consumidor e o impacto direto da guerra tarifária promovida pelo presidente Donald Trump como principais motivos.
“Esta temporada de balanços não teve a ver com os números, e sim com a narrativa”, afirmou Scott Ladner, diretor de investimentos da Horizon Investments LLC. “Ninguém ligou para o desempenho do primeiro trimestre, a não ser para entender de onde se parte nessa nova economia de tarifas”.
De acordo com análise das estrategistas da Bloomberg Intelligence, Gina Martin Adams e Wendy Soong, o índice de "momentum" de projeções de lucro no S&P 500 — que mede o número de empresas elevando suas previsões em comparação às que mantêm ou cortam — caiu ao menor nível desde pelo menos 2010. Isso apesar de as empresas do índice terem registrado lucros no dobro do esperado no período.
Europa e China também sentem os efeitos do conflito comercial
Na Europa, a perspectiva para os lucros em 2025 caiu com a maior velocidade desde a pandemia de Covid-19. Mesmo superando as expectativas com crescimento de 5% no lucro — frente a uma queda esperada de 1,5% —, o pessimismo imperou nos pronunciamentos corporativos. Segundo Kaidi Meng, estrategista da Bloomberg Intelligence, ações de empresas que divulgaram previsões negativas tiveram desempenho abaixo da média do índice Stoxx 600, o que indica que o mercado ainda não precificou completamente os impactos tarifários.
Na China, o índice CSI 300 teve suas projeções de lucro reduzidas em 1,7% desde o pico registrado no fim de março. Os investidores, que aguardavam uma inflexão positiva nos lucros, foram surpreendidos com os entraves causados por novas tarifas. “Estamos em um modo de espera e observação quanto ao cenário de lucros na China”, explicou Homin Lee, estrategista macro sênior do Lombard Odier. “A inflação interna ainda está bastante baixa, o que sugere que as pressões sobre os preços continuarão prejudicando as margens corporativas”.
Alta das ações esconde deterioração nas expectativas
Apesar do pessimismo com as projeções, os mercados tiveram um forte rali. Desde 8 de abril, o S&P 500 subiu 20%, o índice Hang Seng China Enterprises avançou 14% e o Stoxx 600 ganhou 17%. Esse otimismo se sustenta, em parte, em uma trégua momentânea na disputa comercial entre EUA e China.
“Empresas estão agindo corretamente ao se prepararem para diferentes cenários tarifários e econômicos. Os investidores estão recompensando gestões prudentes e companhias com menor exposição às tarifas e com capacidade de crescimento secular”, avaliou Julian Emanuel, estrategista-chefe da Evercore ISI.
Impacto generalizado e decisões inusitadas
A ofensiva tarifária de Trump atingiu diversos setores, sem exceções. A Walmart alertou para possível aumento de preços, a Deere & Co. projetou impacto de US$ 500 milhões em seus custos e a Expedia previu enfraquecimento da demanda por viagens nos Estados Unidos.
Na China, a Alibaba reportou fraco crescimento de receitas. Na Alemanha, a Daimler Truck reduziu suas projeções para o ano, citando queda nos pedidos na América do Norte e aumento nos custos de peças. Em termos de discurso corporativo, as menções a tarifas nas teleconferências de resultados nos EUA e na Europa atingiram um nível recorde, superando até os picos da primeira guerra comercial em 2018.
Diante da incerteza, empresas passaram a adotar medidas atípicas. A United Airlines divulgou duas projeções de lucro: uma para um cenário estável, e outra em caso de recessão. Já Delta e American Airlines retiraram suas previsões. A Mercedes-Benz também suspendeu sua projeção para 2025. Alguns executivos, como Regis Schultz, CEO da JD Sports, se recusaram a comentar tarifas. “Qualquer coisa que dissermos agora será ou poderá ser enganosa”, afirmou Schultz em teleconferência.
Tecnologia e inteligência artificial são exceções
Em meio ao cenário conturbado, empresas de tecnologia, especialmente as voltadas para inteligência artificial, mostraram resiliência. Seis das sete grandes do setor já divulgaram resultados, e quatro delas apresentaram previsões de receita em linha ou superiores às expectativas. A Alphabet não forneceu projeção, e a Nvidia ainda divulgará seus dados em 28 de maio.
“O principal destaque desta temporada foi a resiliência dos gigantes da IA”, disse Aaron Clark, sócio da GW&K Investment Management. Para ele, esse desempenho representa um sinal positivo para os investidores.
Na Europa, os resultados do setor foram mistos. A holandesa ASML decepcionou nas reservas, apesar da forte demanda relacionada à IA. Já a alemã SAP reportou boa performance em sua divisão de softwares em nuvem, mesmo sob o peso das tensões comerciais.
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