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Potências nucleares reforçam arsenais e inauguram nova era de tensões

Relatório do SIPRI alerta para o fim da era do desarmamento nuclear e crescimento acelerado dos estoques atômicos

Reuters (Foto: Reuters)
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247 - Um novo relatório divulgado nesta segunda-feira (16) pelo Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês) revela um cenário preocupante para a segurança global: as potências nucleares estão não apenas modernizando seus arsenais, como também abandonando acordos históricos de controle de armas. A informação é da agência Reuters, que teve acesso ao anuário do think tank sueco, considerado uma das mais importantes referências mundiais em monitoramento de armamentos.

Segundo o SIPRI, o mundo entra em uma nova era, marcada pelo fim do ciclo de redução dos arsenais nucleares que vigorava desde o fim da Guerra Fria. “A era de redução do número de armas nucleares no mundo, que perdurou desde o fim da Guerra Fria, está chegando ao fim. Em vez disso, vemos uma tendência clara de aumento dos arsenais nucleares, aguçamento da retórica nuclear e o abandono dos acordos de controle de armas”, alerta o instituto.

O anuário registra que, do total estimado de 12.241 ogivas nucleares existentes em janeiro de 2025, cerca de 9.614 estavam armazenadas para eventual uso militar. Mais alarmante, aproximadamente 2.100 dessas ogivas estavam em estado de alerta operacional máximo, posicionadas em mísseis balísticos — quase todas sob o comando de duas potências: Estados Unidos e Rússia.

Esses dois países seguem sendo os gigantes nucleares, concentrando juntos cerca de 90% de todo o armamento atômico mundial. A Rússia possuía, até o início deste ano, cerca de 5.459 ogivas, enquanto os Estados Unidos detinham cerca de 5.177. Ambos mantiveram esses números relativamente estáveis em 2024, mas o SIPRI destaca que estão em curso extensos programas de modernização, capazes de ampliar significativamente a capacidade destrutiva desses arsenais nas próximas décadas.

Ainda segundo o relatório, o arsenal nuclear que mais cresce é o da China. O país asiático adiciona cerca de 100 novas ogivas por ano desde 2023. “A China poderá ter até o fim da década um número de mísseis balísticos intercontinentais comparável ao dos Estados Unidos ou da Rússia”, estima o documento.

Além de EUA, Rússia e China, outros seis países integram a lista de potências nucleares: Reino Unido, França, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e Israel. Todos, conforme a análise do SIPRI, demonstram planos ativos para expansão e modernização de seus estoques atômicos, o que acentua ainda mais as tensões em um cenário internacional já marcado por instabilidades, guerras regionais e disputas geopolíticas.

Especialistas apontam que o desmantelamento de tratados internacionais de controle de armas — como o Acordo de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), encerrado em 2019, e o esvaziamento de negociações sobre o Novo START — contribui diretamente para o atual retrocesso. Em lugar do multilateralismo e da diplomacia, ganha força uma lógica de dissuasão agressiva e corrida armamentista.

O relatório do SIPRI chega em um momento particularmente delicado, em que as relações entre as grandes potências se deterioram e conflitos como os do Oriente Médio e da Ucrânia elevam os riscos de confrontos diretos entre países detentores de armas nucleares.

O presidente dos EUA, Donald Trump, que tem adotado uma retórica assertiva em relação à China, ao Irã e à Rússia, não comentou ainda o conteúdo do relatório. Observadores internacionais temem que a combinação entre nacionalismo exacerbado, abandono de pactos e crescimento dos arsenais possa resultar, num futuro próximo, na maior ameaça à paz mundial desde a década de 1980.

Diante disso, o SIPRI faz um apelo urgente pela retomada das negociações de desarmamento. Mas, por ora, os dados falam mais alto: o mundo caminha para uma nova era nuclear, menos segura, mais instável e sem garantias de contenção.

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