"O que acontece em Gaza é inimaginável. É a pior coisa possível", diz jovem israelense
‘Refusenik’, que se recusa a servir ao exército, Tsalik pede o fim do financiamento internacional a Israel e diz que israelenses estão “enojados”
247 - Em reportagem publicada pela Folha de S.Paulo nesta quarta-feira (27), o jovem israelense Soul Tsalik, 19, relatou os motivos que o levaram a se recusar a servir às Forças Armadas de Israel, uma decisão que lhe custou três meses em uma prisão militar entre novembro de 2024 e janeiro deste ano. Militante da organização ativista Mesarvot, que oferece apoio jurídico a objetores de consciência, Tsalik afirma que a guerra em Gaza e a ocupação da Cisjordânia tornam insustentável o envolvimento no Exército.
Conhecidos como “refuseniks” ou “sarvanim” em hebraico, jovens como ele integram uma minoria que rejeita o serviço militar por razões políticas, não religiosas. Segundo dados oficiais, Israel mantém cerca de 165 mil soldados ativos e mais de 465 mil reservistas. O serviço militar é obrigatório a partir dos 18 anos — três anos para homens e dois para mulheres — e historicamente consolidado como parte da identidade nacional.
'Preferi a prisão à guerra'
Em entrevista concedida em Tel Aviv, Tsalik contou que sua decisão foi amadurecida ainda na adolescência: “Quando eu tinha 14 ou 15 anos, comecei a me interessar por história e política. Aos 16, 17, eu já sabia que me recusaria a servir. Preferi a prisão a participar de um exército que mantém a ocupação e perpetua a violência".
O jovem relatou que a experiência na prisão foi marcada por tensões e situações de violência, embora não tenha sido agredido fisicamente. “No início foi assustador, mas, com o tempo, conseguimos estabelecer conversas sinceras. Acredito que convenci alguns colegas de que precisamos lutar pela paz e não pela guerra".
Crítica ao genocídio em Gaza e à narrativa oficial
Para Tsalik, o conflito em Gaza representa “a pior tragédia possível”. Segundo ele, muitos israelenses resistem a reconhecer a dimensão da violência devido à ligação histórica com o Exército e à propaganda oficial.
“O que acontece hoje em Gaza é inimaginável. As pessoas estão enojadas e desiludidas. Precisamos parar as guerras e a ocupação, e trabalhar pela paz".
Ele também critica a forma como o governo conduz a narrativa sobre o conflito: “Quase todo israelense tem família no Exército. Você cresce ouvindo que ele é intocável, que qualquer crítica é antissemitismo. Isso cega a sociedade".
Apelo à comunidade internacional
O jovem destacou a importância das mobilizações conjuntas de movimentos judaicos e palestinos no exterior e pediu uma mudança de postura internacional. “Quero que o mundo pare de armar meu país. Precisamos que a comunidade internacional pare de financiar as guerras de Israel e passe a apoiar a luta pelos direitos dos palestinos. Isso também é importante para os israelenses".
Apesar das adversidades, Tsalik se diz otimista em relação à criação de um Estado palestino e à construção de uma paz duradoura. Para ele, insistir na ocupação e nos conflitos é que torna a situação “complicada”. “Todos estão sofrendo com o conflito, e não há solução a não ser a paz".