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Celso Amorim alerta sobre confundir drogas com terrorismo diante de ofensiva de Trump

Diplomata critica ofensiva militar de Trump no Caribe e defende que soberania deve ser respeitada na cooperação internacional

Celso Amorim (Foto: Roque de Sá/Agência Senado)

247 - O diplomata Celso Amorim, principal conselheiro de política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, manifestou preocupação com a atuação militar dos Estados Unidos na América Latina. Em entrevista ao jornal O Globo, ele afirmou que a justificativa de Washington para enviar navios de guerra à região em nome do combate ao narcoterrorismo pode gerar confusões perigosas entre a luta contra drogas e ações de enfrentamento ao terrorismo.

A declaração ocorre após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar que a Marinha americana atacou uma embarcação no Caribe, resultando na morte de três pessoas que ele classificou como “narcoterroristas venezuelanos”. No início do mês, em 2 de setembro, uma primeira operação havia deixado 11 mortos, segundo Trump, em um barco supostamente ligado ao tráfico de drogas.

Discurso de Lula na ONU

Amorim antecipou que o presidente Lula deverá destacar soberania, democracia e multilateralismo em seu pronunciamento na Assembleia Geral da ONU, marcado para a próxima semana. Segundo o embaixador, “soberania, democracia, assim como o multilateralismo e o respeito às regras são o que o Brasil defende. Nossa democracia é baseada na separação dos poderes”. Ele acrescentou ainda que o governo acredita em “um mundo mais equilibrado, mais multipolar”, no qual os EUA também tenham papel relevante.

Relação Brasil-EUA e o uso da força militar

O ex-chanceler reforçou que o Brasil respeita as decisões soberanas de outros países, mas defendeu limites claros para a cooperação internacional. “O combate às drogas tem de ocorrer, mas baseado na cooperação e na ação soberana dos Estados. Você pode até aceitar a cooperação, mas não através de ameaça militar. Acho também que não se pode confundir, por pior que seja, o combate às drogas com terrorismo, que é uma outra coisa, que visa a destruir os Estados”, afirmou.

Amorim avaliou ainda que não há previsão de encontro entre Lula e Donald Trump durante os próximos compromissos internacionais. “Não posso dizer nada a respeito disso. Não há a intenção e não tem nada programado”, disse.

Brics, sanções e equilíbrio global

Ao comentar críticas de Trump ao Brics, o conselheiro ressaltou a importância do grupo, mas também destacou o peso do G20. “Nós continuaremos a defender a democracia, o multilateralismo, e isso precisa ser baseado não só em regras, mas em regras multilateralmente aceitas, equilibradas, em que os países em desenvolvimento tenham peso”, declarou.

Sobre a possibilidade de novas sanções dos EUA contra o Brasil, Amorim ponderou: “A gente não sabe qual o limite entre a ameaça e a bravata, mas acredito que a racionalidade vai prevalecer”.

Aproximação com a China e integração regional

O diplomata também falou sobre a prioridade brasileira em ampliar parcerias econômicas. “O Brasil tem boas relações com todos os países, mas a China hoje é o país que economicamente mais cresce no mundo. A Índia também cresce muito, mas a China tem muito mais, digamos, flexibilidade nas negociações”, afirmou. Ele destacou ainda o interesse do governo em fortalecer a integração sul-americana, citando exemplos como a compra de gás da Argentina e um projeto de fibra ótica em parceria com a Colômbia.

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