Movimentos de direitos humanos reprovam possível visita de Netanyahu à Argentina
Organizações pedem prisão do premiê israelense por crimes de guerra caso ele visite o país, em meio a crescente tensão política
247 - A possível visita do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, à Argentina, em setembro, gerou fortes reações de grupos de direitos humanos, políticos e intelectuais argentinos.
Segundo informações não confirmadas, o presidente argentino Javier Milei teria convidado Netanyahu para uma reunião em Buenos Aires, mas também é cogitada a possibilidade de um encontro durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, no final do mês. A especulação sobre a visita tem gerado pedidos de prisão do premiê israelense, acusado de crimes de guerra, caso ele chegue a pisar em solo argentino, aponta reportagem do Haaretz.
A controvérsia foi acentuada por uma declaração do grupo Abuelas de Plaza de Mayo (Avós da Praça de Maio), uma das mais respeitadas organizações de direitos humanos do país. A entidade, conhecida por sua luta para reunir crianças sequestradas durante a ditadura militar argentina, condenou a visita à luz de um mandado de prisão pendente emitido pelo Tribunal Penal Internacional contra Netanyahu.
O grupo também criticou a possibilidade de o líder israelense ser recebido com honrarias pelo governo argentino. "O silêncio não é uma opção diante do genocídio que o Estado de Israel está cometendo em Gaza", afirmou a organização em comunicado publicado no final de agosto. "Não queremos um criminoso genocida vagando livremente em nosso país", completou.
A carta da Abuelas de Plaza de Mayo, que faz referência ao genocídio, um termo amplamente usado para descrever as violações cometidas pela ditadura argentina entre 1976 e 1983, também pede que os governos se comprometam a acabar com o genocídio. A comparação entre os atos cometidos na Palestina e na Argentina é um tema delicado no país, onde o termo "genocídio" ainda ressoa fortemente, devido ao trauma da repressão militar.Em resposta à possível visita de Netanyahu, vários grupos de direitos humanos, incluindo HIJOS (organização que representa filhos de desaparecidos), apresentaram ações judiciais pedindo sua prisão.
O advogado de direitos humanos, Rodolfo Yanzón, protocolou uma petição no final de agosto, solicitando que Netanyahu fosse entregue ao Tribunal Penal Internacional ou, caso contrário, fosse julgado na Argentina por crimes de guerra. A petição é especialmente baseada no assassinato de 15 trabalhadores humanitários e paramédicos em Rafah, durante uma incursão militar israelense em Gaza, considerada um crime contra a humanidade.
O protesto contra a visita de Netanyahu também foi apoiado por 15 intelectuais argentinos, que assinaram uma carta aberta condenando a decisão de Milei de convidar o premiê israelense. Entre os signatários estão figuras proeminentes como Adrián Gorelik, autor e historiador, e José Emilio Burucúa, renomado historiador. A carta foi clara ao afirmar que o convite representa uma traição aos valores humanistas da Argentina, colocando o governo argentino ao lado de regimes autocráticos e violadores de direitos humanos.
Netanyahu, que já visitou a Argentina em 2017, durante o governo de Mauricio Macri, viu o clima político no país mudar desde a posse de Milei, que já fez duas visitas a Israel e anunciou, recentemente, a intenção de transferir a embaixada argentina de Tel Aviv para Jerusalém. Esse gesto tem sido interpretado como um alinhamento mais próximo da política israelense, mas também gerou críticas tanto dentro quanto fora do país.
A expectativa agora é se o governo de Milei manterá o convite e como responderá às crescentes pressões internas e internacionais sobre a questão. A visita de Netanyahu à Argentina pode se tornar um ponto de inflexão na relação bilateral e na postura política do país em relação ao conflito em Gaza e às questões de direitos humanos.