HOME > Economia

'Quem trabalhou para que Trump adotasse essa taxação trabalhou contra o Brasil', diz Jorge Viana

Presidente da ApexBrasil defende bom senso nas relações com os EUA e alerta para prejuízos mútuos causados pela tarifa de 50% anunciada por Donald Trump

Jorge Viana, presidente da Apex (Foto: Robson Moura / TV Brasil)
Redação Brasil 247 avatar
Conteúdo postado por:

247 – Em entrevista à Voz do Brasil, o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Jorge Viana, classificou como “lamentável” a decisão do governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir de 1º de agosto. A medida foi comunicada por Trump em carta enviada ao presidente Lula.

Viana criticou duramente a decisão e sugeriu que a política foi incentivada por atores brasileiros com interesses contrários aos do país. “Eu não sei se tem alguém que trabalhou para essas medidas virem lá nos Estados Unidos. Mas se trabalhou, trabalhou contra o Brasil, é lamentável”, afirmou. Ele também ponderou que há espaço para reverter a medida por meio do diálogo e destacou que o impacto será negativo para os dois lados. “O dano que uma medida dessa causaria é muito intenso, eu diria, no Brasil e nos Estados Unidos, nos dois lados”, avaliou.

Relações comerciais de 201 anos em risco

Viana defendeu que os 201 anos de relação comercial entre Brasil e Estados Unidos devem ser preservados. Segundo ele, é possível evitar uma crise se o componente político da carta enviada por Trump for desconsiderado e as negociações se concentrarem nos aspectos econômicos. “Nós apostamos que até o dia 1º de agosto é possível, se separarmos a parte ideológica, mais política da carta e trabalharmos a parte comercial, acho que é possível ter entendimento”, disse.

O presidente da ApexBrasil observou que muitos setores produtivos dos EUA dependem das exportações brasileiras. “Eu acho que vai ter uma reação forte de setores produtivos nos Estados Unidos, que dependem desses produtos que o Brasil fornece”, alertou, acrescentando que haverá uma mobilização também dos setores brasileiros atingidos.

Interdependência econômica e pragmatismo

Viana destacou a interdependência econômica entre os dois países, citando setores fundamentais como o de suco de laranja, carne bovina, café e aviação. “Mais de 70% do suco de laranja consumido nos Estados Unidos é brasileiro. A Embraer exporta US$ 2,7 bilhões para os EUA, onde voam mais de 1.500 aviões da empresa. Exportamos quase US$ 900 milhões em carne bovina e US$ 1,8 bilhão em café”, exemplificou.

Essa integração, segundo ele, não pode ser rompida por uma decisão unilateral motivada por razões ideológicas. “Tem uma integração das cadeias produtivas que não pode ser rompida por um ato exclusivo. O mundo hoje criou esse ambiente de dependência de um país ao outro”, destacou.

Supostos motivos e dados manipulados

O presidente da ApexBrasil também questionou a legitimidade da argumentação usada pelos EUA para justificar a taxação. De acordo com ele, a carta mistura interferência política com informações comerciais distorcidas. “A carta pode ser dividida em duas partes. Uma que é quase uma intervenção externa no Brasil, afetando o Judiciário, e a outra trata do comércio. O problema é que a base de dados usada na carta do comércio também não é verdadeira”, afirmou.

Viana esclareceu que, desde 2009, os EUA têm superávit na balança comercial com o Brasil, que chega a quase US$ 400 bilhões. “Se o interesse dos Estados Unidos é diminuir o déficit, o Brasil é um aliado, porque dá superávit para os Estados Unidos”, explicou.

Impacto nos pequenos exportadores e no Sudeste

Segundo Jorge Viana, os principais afetados pela tarifa serão empresas do Sudeste, especialmente de São Paulo, de onde saem mais de 70% das exportações brasileiras para os EUA. Ele também alertou para o impacto direto nos pequenos negócios, que representam cerca de 40% das empresas exportadoras do país.

“Quem mais vai se prejudicar, se efetivar, é o governo de São Paulo, é o povo paulista”, disse. “Vai dar para a gente ter um trabalho com o interesse do comércio em primeiro lugar, ser pragmático. Se nós fizermos isso, eu acho que nós vamos seguir essa relação de amizade de 201 anos que temos com os Estados Unidos, independente de quem esteja no governo lá ou aqui.”

Alternativas e novos mercados

Viana lembrou ainda que o Brasil está diversificando suas parcerias comerciais, ampliando relações com países da Ásia, como Índia e Indonésia, e buscando concluir acordos do Mercosul com a União Europeia e o bloco EFTA. “Esses movimentos ajudam a reduzir os impactos de uma possível redução do mercado norte-americano”, afirmou.

A expectativa da ApexBrasil, alinhada ao governo federal, é de que o bom senso prevaleça e o comércio bilateral com os EUA seja preservado. “O Brasil trabalha bem com todos os países do mundo, está crescendo o seu comércio e, como o presidente Lula diz, nós queremos vender mais e comprar mais”, concluiu Viana.

❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Cortes 247

Relacionados

Carregando anúncios...
Carregando anúncios...