Lula: “Sul Global não será fornecedor de matérias-primas”

247 - Em discurso durante a Cúpula de Chefes de Estado do BRICS, nesta segunda-feira (7), no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar a escassez de recursos destinados à transição energética global. 

Em sua fala na sessão “Meio Ambiente, COP 30 e Saúde Global”, o presidente defendeu que o Sul Global não deve repetir os erros do passado e se recusar a ocupar o papel de mero exportador de matérias-primas.

Segundo Lula, embora os países em desenvolvimento sejam os mais afetados pelas mudanças climáticas, são justamente os que menos têm meios para implementar medidas de mitigação e adaptação. 

“É inadiável promover a transição justa e planejada para o fim do uso de combustíveis fósseis e para zerar o desmatamento”, afirmou. Ele ressaltou ainda que “o Sul Global tem condições de liderar um novo paradigma de desenvolvimento”.

Críticas ao mercado e alerta sobre financiamento climático

O presidente condenou o que chamou de “negacionismo” e “unilateralismo” por parte de países desenvolvidos, que minam os avanços ambientais obtidos nas últimas décadas. “O aquecimento global ocorre em ritmo mais acelerado do que o previsto”, alertou, citando também o risco de colapso das florestas tropicais e o estado crítico dos oceanos.

Lula foi incisivo ao mencionar que menos de 60 empresas respondem por 80% das emissões de carbono no planeta, com destaque para os setores de petróleo, gás e cimento. Ele também atacou os incentivos financeiros dados a essas indústrias: “Em 2024, os 65 maiores bancos do mundo se comprometeram a conceder 869 bilhões de dólares para o setor de combustíveis fósseis”.

Apesar disso, destacou a adoção da Declaração-Quadro sobre Finanças Climáticas do BRICS como um passo na direção certa, ao propor alternativas de financiamento. Ele também anunciou a criação do “Fundo Florestas Tropicais para Sempre”, previsto para ser lançado na COP 30, com o objetivo de remunerar os serviços ecossistêmicos prestados por esses biomas.

Saúde como direito e pilar do desenvolvimento

Ao abordar a saúde global, Lula foi direto: “Apesar de ser um direito humano, bem público e motor de desenvolvimento, a saúde global também é profundamente afetada pela pobreza e pelo unilateralismo”. Ele defendeu o fortalecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS) como autoridade legítima no enfrentamento de pandemias e citou como avanço recente o Acordo de Pandemias.

O presidente brasileiro cobrou mais investimentos para garantir condições básicas de vida: “Não há direito à saúde sem investimento em saneamento básico, alimentação adequada, educação de qualidade, moradia digna, trabalho e renda”.

Além disso, anunciou o lançamento da Parceria pela Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas, com ações focadas em infraestrutura e fortalecimento de capacidades. A consolidação da Rede de Pesquisa de Tuberculose e a cooperação em produtos médicos também foram citadas como exemplos da atuação do BRICS.

Chamado por justiça climática e combate às desigualdades

Lula concluiu sua intervenção reiterando a importância da justiça climática como componente inseparável do combate à fome e às desigualdades socioambientais. “Ao proteger, conservar e restaurar nossos territórios, criamos também oportunidades para as comunidades locais e povos indígenas”, declarou.

A visão apresentada pelo Brasil durante a cúpula sinaliza a estratégia do governo Lula de articular desenvolvimento econômico com compromisso ambiental e inclusão social, colocando a dignidade humana no centro das decisões multilaterais.

(Informações do portal Opera Mundi)