Japão rejeita pressão dos EUA por tarifas sobre petróleo russo
Ministro da Fazenda afirma que país respeitará compromissos da OMC e não seguirá proposta de Washington
247 - O ministro das Finanças do Japão, Katsunobu Kato, reagiu nesta terça-feira (16) à pressão dos Estados Unidos para que Tóquio adote tarifas adicionais contra países que continuam a importar petróleo da Rússia. A reportagem é da Bloomberg, que destacou a resistência japonesa em acompanhar a escalada de sanções defendida pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Segundo Kato, a proposta de Washington — que inclui sobretaxas de até 100% contra China e Índia — contraria compromissos firmados pelo Japão na Organização Mundial do Comércio (OMC). “O Japão assumiu o compromisso, dentro do marco da OMC, de não aplicar tarifas além dos limites estipulados e de tratar todos os países-membros de forma justa, desde que os demais cumpram suas obrigações nos acordos da organização”, afirmou. O ministro reforçou: “Seria difícil elevar tarifas para, digamos, 50%, apenas pelo fato de determinado país estar importando petróleo da Rússia”.
Contexto da pressão ocidental
As declarações foram dadas após uma reunião virtual do G7, realizada na última sexta-feira, em que os EUA pressionaram seus aliados a adotar tarifas mais duras contra países que ainda compram energia russa. A medida é parte de uma tentativa de sufocar financeiramente Moscou em meio à guerra na Ucrânia.
Contudo, a posição japonesa reflete a complexidade de sua dependência energética. O país continua adquirindo petróleo e gás natural liquefeito (GNL) da Rússia, principalmente do projeto Sakhalin-2, localizado ao norte do arquipélago. Esses fluxos não estão sujeitos às sanções ocidentais e são considerados estratégicos para garantir a estabilidade energética do Japão. Dados do Ministério do Comércio apontam que cerca de 1% das importações de petróleo do país, em junho, tiveram origem russa.
Divergências no G7
Apesar de declarar alinhamento com os parceiros ocidentais, Kato reforçou que Tóquio busca alternativas menos drásticas: “Estamos revisando que tipo de pressão pode ser mais eficaz e coordenando de perto com nossos parceiros do G7”. Fontes citadas pela Bloomberg afirmam que o bloco trabalha em um novo pacote de sanções, com previsão de definição nas próximas duas semanas.
A iniciativa de Washington demonstra, mais uma vez, a estratégia da administração Trump de utilizar tarifas como ferramenta política, incentivando aliados a seguirem sua linha dura. O plano prevê, além das sobretaxas, restrições comerciais mais amplas para conter a entrada de tecnologias de uso dual na Rússia. Em paralelo, Trump declarou estar pronto para impor “sanções importantes” contra as exportações de energia russa, caso os países da OTAN concordem.
Na Europa, embora diversas nações tenham reduzido ou interrompido a compra de petróleo russo, membros como a Hungria continuam resistindo a medidas mais rígidas da União Europeia, evidenciando as divisões internas do bloco diante da pressão dos EUA.