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EUA criam novo comando antidrogas que pode ser usado como pretexto para guerra contra Venezuela

Pentágono amplia presença militar na América Latina sob comando dos Fuzileiros Navais, enquanto Trump cogita ataques em território venezuelano

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, discursa para oficiais militares em Quantico, no estado da Virginia - 30/09/2025 (Foto: Andrew Harnik/Pool via REUTERS)

247 – O Pentágono anunciou nesta sexta-feira (10) a criação de uma nova força-tarefa conjunta para coordenar operações antidrogas na América Latina, em um movimento que reforça a presença militar dos Estados Unidos na região e desperta temores de intervenção na Venezuela. A informação foi divulgada pela agência Reuters, que destacou que a iniciativa ocorre em meio à escalada das ações militares norte-americanas e a crescentes questionamentos jurídicos sobre sua legalidade.

O secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, afirmou que o objetivo do novo comando é “aniquilar os cartéis, deter o veneno e manter a América segura”. Em mensagem publicada na rede X, Hegseth reforçou a retórica de força do governo Trump: “A mensagem é clara: se você trafica drogas em direção às nossas costas, nós o impediremos imediatamente”.

Operações no Caribe e suspeitas de uso político

Até o momento, as missões se concentraram em ataques a embarcações suspeitas de tráfico de drogas no Caribe, resultando na destruição de ao menos quatro barcos e na morte de 21 pessoas. As ações são conduzidas pelo Comando Sul dos Estados Unidos (Southcom), que supervisiona as operações militares no hemisfério ocidental.

O novo comando será liderado pela II Força Expedicionária dos Fuzileiros Navais (II MEF), unidade sediada em Camp Lejeune, na Carolina do Norte, reconhecida por sua capacidade de rápida mobilização para missões internacionais. Segundo o almirante Alvin Holsey, chefe do Southcom, a criação da força-tarefa permitirá “detectar, interromper e desmantelar redes de tráfico ilícito de forma mais rápida e profunda, junto a parceiros regionais”.

Entretanto, fontes citadas pela Reuters indicam que o presidente Donald Trump avalia autorizar ataques contra supostos alvos do narcotráfico em território venezuelano, o que transformaria uma operação marítima em uma ofensiva de alcance continental — reacendendo temores de uma ação militar disfarçada de combate às drogas.

“Trata-se de um esforço marítimo”, diz comandante

O tenente-general Calvert Worth, comandante da II MEF e responsável direto pelo novo comando, afirmou que o foco da operação permanece no mar. “Trata-se principalmente de um esforço marítimo, e nossa equipe usará patrulhas navais, vigilância aérea, interdições de precisão e compartilhamento de inteligência para combater o tráfico ilícito, manter o estado de direito e proteger comunidades vulneráveis”, disse Worth.

Apesar disso, a falta de transparência sobre as ações — como o tipo de armamento utilizado e as provas contra os alvos — vem gerando críticas de parlamentares democratas e de juristas, que veem o governo Trump testando os limites da lei internacional.

Especialistas alertam para riscos de violação do direito internacional

Segundo a Reuters, especialistas e ex-advogados militares afirmam que as justificativas do governo norte-americano não atendem aos requisitos da lei de guerra, que exige o uso de meios não letais antes de ações letais. Eles também questionam por que as Forças Armadas — e não a Guarda Costeira, responsável pela aplicação da lei marítima — estão executando as operações.

Um documento enviado recentemente pelo Pentágono ao Congresso, citado pela Reuters, revela que Trump determinou que os Estados Unidos estão engajados em “um conflito armado não internacional”. A definição serviria como base legal para ampliar o uso da força militar no Caribe e possivelmente além dele, incluindo o território venezuelano.

Escalada militar e tensões regionais

A decisão marca uma nova etapa na militarização da política antidrogas norte-americana, com implicações diretas para a soberania de países latino-americanos. Analistas veem o movimento como parte de uma estratégia de pressão contra o governo de Caracas, frequentemente acusado por Washington de facilitar o tráfico de drogas — alegação negada pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro.

Com o novo comando sob responsabilidade dos Fuzileiros Navais, os Estados Unidos reforçam sua capacidade de mobilização e ataque rápido na região, o que pode representar um pretexto para uma ação militar disfarçada de operação antidrogas. A medida aprofunda as tensões diplomáticas e reacende o debate sobre a interferência norte-americana na América Latina, tema historicamente sensível para os países da região.

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