EUA anunciam taxa de 93,5% sobre grafite da China, usado para baterias de veículos elétricos
Nova taxação antidumping eleva custos, prejudica montadoras e pode comprometer cadeia global de veículos elétricos
247 - O Departamento de Comércio dos Estados Unidos determinou tarifas antidumping preliminares de 93,5% sobre as importações chinesas de grafite, matéria-prima estratégica na produção de baterias. A informação foi publicada pela Bloomberg nesta quinta-feira (18).
A medida vem após denúncias apresentadas por um grupo que representa os produtores norte-americanos de ânodos, o American Active Anode Material Producers, que alegam concorrência desleal por parte das empresas chinesas.
Com o acréscimo, as tarifas totais sobre o grafite importado da China chegam a cerca de 160%, segundo a associação que protocolou a queixa junto a duas agências federais dos EUA. O setor já operava com taxas anteriores, mas a nova alíquota representa um salto expressivo, com efeitos diretos na indústria de veículos elétricos, especialmente para fabricantes que ainda dependem das importações chinesas para atender à demanda.
“A determinação do Departamento de Comércio prova que a China está vendendo AAM (Active Anode Material) abaixo do valor justo no mercado doméstico”, afirmou Erik Olson, porta-voz do grupo de produtores de ânodos.
Pressão sobre a indústria de baterias
A decisão pode gerar impacto significativo nos custos de produção, sobretudo para montadoras e fabricantes de baterias que ainda não contam com fornecedores domésticos em escala. Sam Adham, diretor de materiais para baterias do CRU Group, estimou que uma tarifa de 160% representa um custo adicional de aproximadamente US$ 7 por quilowatt-hora para uma célula de bateria de tamanho médio.
“Isso basicamente elimina os lucros por um ou dois trimestres inteiros para os fabricantes coreanos de baterias”, avaliou Adham.
A Tesla e sua parceira japonesa Panasonic foram algumas das empresas que tentaram barrar as novas tarifas, sob o argumento de que os fornecedores dos Estados Unidos ainda não oferecem a qualidade e volume necessários para a fabricação de seus produtos. As ações da Tesla recuaram 0,7% após a divulgação da medida.
Cadeia de suprimentos em risco
Quase 180 mil toneladas métricas de grafite foram importadas pelos EUA em 2024, sendo dois terços desse volume oriundos da China, segundo a BloombergNEF. O grafite segue como o principal material utilizado na fabricação de ânodos das baterias de íon-lítio, e a Agência Internacional de Energia (IEA) já havia alertado para o risco de fornecimento concentrado nesse insumo, recomendando a diversificação de fontes.
De acordo com a IEA, o grafite continuará dominando o setor até pelo menos 2030, mesmo com a entrada gradual do silício como alternativa.
Incentivo à produção local
A decisão do governo norte-americano foi bem recebida por fabricantes domésticos. Para Jon Jacobs, diretor comercial da Westwater Resources — empresa que constrói uma planta de grafite no estado do Alabama —, a medida “fornece a clareza política e sinais de mercado necessários para acelerar a produção doméstica de grafite”.
A Westwater já possui acordos com companhias como a montadora Stellantis e a sul-coreana SK On. Atualmente, a empresa opera em fase piloto com produção de 12.500 toneladas métricas por ano e projeta expandir a capacidade para 50 mil toneladas anuais até 2028. As ações da Westwater subiram 15% após o anúncio da tarifa. Empresas canadenses como Nouveau Monde Graphite e Northern Graphite também registraram fortes altas.
Efeitos colaterais
Apesar dos ganhos para os produtores norte-americanos, o impacto para o setor de energia renovável e armazenamento de energia preocupa analistas. A Roth Capital Partners advertiu que empresas como Fluence Energy e Enphase Energy podem ter sua estrutura de custos afetada. Ambas viram suas ações caírem 0,4% e 0,7%, respectivamente.
A consultoria Wood Mackenzie prevê que os custos adicionais e a complexidade regulatória associada às novas regras — somadas às restrições do Departamento do Tesouro ao uso de componentes chineses — devem desacelerar a expansão da capacidade de armazenamento de energia nos EUA, mesmo com os incentivos fiscais mantidos no orçamento do presidente Donald Trump.
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