Chefe da AIEA rebate Trump e nega que Irã esteja fabricando armas nucleares
O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica reafirma que não há evidências de programa nuclear militar iraniano
247 - O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, afirmou em entrevista exclusiva à CNN, na terça-feira (17), que não existem evidências de que o Irã esteja desenvolvendo armas nucleares. “Não tivemos nenhuma evidência de um esforço sistemático [do Irã] para avançar em direção às armas nucleares”, declarou. A fala do principal dirigente do órgão de vigilância nuclear da ONU representa uma clara refutação às alegações feitas por autoridades americanas e israelenses.
A reportagem da CNN, reproduzida por agências internacionais, repercute a posição oficial da AIEA diante das crescentes tensões envolvendo o Irã, Israel e os Estados Unidos. Grossi assegurou que as conclusões da AIEA “são consistentes com as de outras fontes independentes”, e enfatizou que a agência tem atuado com base em dados técnicos, não em conjecturas políticas.
A entrevista foi concedida poucos dias após o Conselho de Governadores da AIEA aprovar uma resolução condenando o Irã sob a alegação de que o país estaria violando obrigações internacionais no campo nuclear. Teerã classificou o documento como “politicamente motivado” e defendeu que tem mantido seus compromissos com o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e com o Acordo de Salvaguardas da própria AIEA.
Além disso, o Irã ressalta que as obrigações previstas no Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA), assinado em 2015, deixaram de ser vinculativas na medida em que os países europeus signatários — Alemanha, Reino Unido e França — não vêm cumprindo sua parte no acordo. Em resposta às sanções e à pressão ocidental, Teerã mantém a posição de que seu programa nuclear tem fins exclusivamente pacíficos.
As declarações de Grossi surgem em um momento de intensa tensão geopolítica. O residente dos EUA, Donald Trump, voltou a acusar o Irã, sem apresentar provas, de manter um programa clandestino com fins militares. As afirmações de Trump repetem argumentos já desacreditados por organismos técnicos e especialistas internacionais.
A situação se agravou após um ataque aéreo israelense atingir, na sexta-feira (13), a instalação nuclear de Natanz, localizada na cidade iraniana de Isfahan. O bombardeio foi condenado internacionalmente por representar uma grave violação à soberania iraniana e um ataque direto a instalações sob supervisão da AIEA.
Mesmo diante da agressão, o chefe da Organização de Energia Atômica do Irã (AEOI), Mohamed Eslami, assegurou que “as instalações nucleares do país estão em boas condições” e seguem funcionando normalmente. Ele condenou a ofensiva israelense e declarou que ela não conseguirá frear o programa nuclear pacífico do Irã. “O inimigo pode ter certeza de que não chegará a lugar nenhum dessa forma. O moral dos nossos colegas é excelente, e eles estão nas trincheiras do serviço”, afirmou Eslami.
Como resposta aos ataques, o Irã lançou a Operação Promessa Verdadeira III, considerada uma ação de autodefesa diante da escalada de agressões. Segundo fontes oficiais iranianas, onze fases da operação já foram concluídas com sucesso, demonstrando capacidade de retaliação e reafirmando a soberania nacional frente às ameaças externas.
As declarações de Grossi, nesse contexto, têm peso político e diplomático. Ao reafirmar que não há qualquer evidência de militarização do programa nuclear iraniano, o diretor da AIEA contribui para desmentir a narrativa bélica promovida por Israel e pelos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, levanta questionamentos sobre o uso político de resoluções técnicas, como a recentemente aprovada pelo Conselho de Governadores da agência.
A postura do chefe da AIEA também pode influenciar os próximos passos das negociações diplomáticas, em especial as que envolvem o retorno ao JCPOA e a normalização das relações entre o Irã e os países europeus. Com as tensões em alta, a credibilidade das instituições multilaterais e o respeito aos princípios do direito internacional se tornam ainda mais centrais para a contenção de novos conflitos no Oriente Médio.
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