Cessar-fogo enfrenta impasses sobre governo de Gaza e desarmamento do Hamas
Apesar da libertação de reféns e do cessar-fogo inicial, pontos cruciais seguem sem solução e ameaçam consolidar a paz
247 - A libertação dos últimos prisioneiros israelenses pelo Hamas, junto à soltura de quase dois mil prisioneiros palestinos, marcou a primeira etapa do cessar-fogo acordado na Faixa de Gaza. O plano, apresentado pelo atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi celebrado em cerimônia realizada no Egito. No entanto, especialistas alertam que os desafios mais profundos para encerrar a guerra de genocídio contra o povo palestino ainda estão longe de um consenso.
A assinatura do cessar-fogo foi saudada como um marco histórico. Entretanto, questões decisivas seguem em aberto: quem governará Gaza após a retirada das tropas, se o Hamas aceitará se desarmar e de que forma a reconstrução do território devastado será financiada. Esses dilemas podem comprometer a estabilidade política e social da região, mesmo com a trégua em andamento.
As pendências do acordo
A proposta de Trump prevê um plano em 20 pontos. Entre eles, estão o desarmamento gradual do Hamas, a criação de uma força de segurança internacional liderada por países árabes e a entrega do governo de Gaza a um corpo técnico palestino, supervisionados por um organismo internacional.
Contudo, a implementação esbarra em posições antagônicas. Israel insiste que o Hamas precisa entregar suas armas e renunciar a qualquer influência política na Faixa de Gaza. Já o movimento de Resistência afirma que só aceitará abrir mão de parte do arsenal se houver garantias de fim da ocupação israelense.
A retirada das tropas israelenses
Outro ponto sensível é a presença militar de Israel. O Hamas condicionava a libertação dos últimos reféns vivos à retirada completa das tropas, mas acabou cedendo diante da mediação internacional. Ainda assim, espera que Trump pressione por uma evacuação total, algo que pode levar meses ou anos. Atualmente, militares israelenses permanecem em Rafah, no sul, e em áreas próximas à fronteira.
Israel também sinalizou que pretende manter o controle do corredor da Filadélfia, na divisa com o Egito, e estabelecer uma zona de proteção permanente dentro de Gaza, medida rejeitada pelo Hamas.
Reconstrução e futuro de Gaza
A devastação em Gaza é outro desafio colossal. Hospitais, escolas, casas e a infraestrutura básica estão em ruínas, e a economia praticamente colapsou. Não está definido quem financiará a reconstrução nem como será administrada a ajuda internacional.
Além disso, há resistência do governo israelense em aceitar qualquer papel central da Autoridade Palestina na administração de Gaza, enquanto Trump insiste que Mahmoud Abbas precisará realizar reformas antes de assumir responsabilidades. O Hamas, por sua vez, afirma que a governança deve ser decidida pelos palestinos.