Brasil considera “absurda” possível retaliação por comércio com a Rússia
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, ameaçou aplicar sanções comerciais contra países que mantém relações comerciais com a Rússia
247 - O governo brasileiro criticou com veemência a ameaça feita pelo secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Mark Rutte, sobre a possibilidade de sanções comerciais contra países que mantêm relações comerciais com a Rússia. As informações são da CNN Brasil.
De acordo com interlocutores do governo em Brasília, a fala de Rutte foi considerada “absurda” e potencialmente danosa para o equilíbrio global. Eles alertam que sanções desse tipo poderiam agravar crises já existentes, como a insegurança alimentar e energética, afetando inclusive os próprios países membros da Otan.
A Rússia, atualmente em guerra com a Ucrânia, é o quinto maior exportador mundial de grãos e líder na exportação de fertilizantes. Esses insumos são considerados essenciais para grandes potências agrícolas, como Brasil, China e Índia. Diplomatas argumentam que qualquer restrição ao comércio com Moscou pode impactar diretamente a produção agrícola nessas nações — o que, por consequência, atingiria também os consumidores europeus e americanos.
Além da preocupação com a produção de alimentos, o governo brasileiro também levanta a questão energética. Apesar dos esforços da União Europeia para reduzir sua dependência do gás russo, o bloco ainda recorreu a esse recurso em 2024 para suprir cerca de 20% de suas necessidades, especialmente no aquecimento residencial.
“Então, por favor, liguem para Vladimir Putin e digam a ele que ele precisa levar as negociações de paz a sério, porque, caso contrário, isso vai prejudicar o Brasil, a Índia e a China de forma massiva", declarou Mark Rutte. Em Brasília, a fala foi interpretada como uma tentativa de alinhar o discurso à pressão exercida pelos Estados Unidos, cujo presidente, Donald Trump, tem ameaçado se retirar da aliança militar caso seus aliados não adotem postura mais dura contra Moscou.
A retórica de Rutte também foi lida como um aceno direto a Trump, numa tentativa de fortalecer a coesão interna da Otan. Recentemente, o senador republicano Lindsey Graham, aliado do ex-presidente americano, já havia defendido abertamente a aplicação de sanções contra a China por manter comércio com a Rússia.
O governo chinês, por sua vez, classificou qualquer penalização por esse motivo como “ilegal” e “unilateral”. A posição é compartilhada por autoridades brasileiras, que têm reiterado a necessidade de preservar canais comerciais para evitar impactos sistêmicos na economia global.
O Brasil, inclusive, já havia se posicionado sobre o tema em 2022, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na ocasião, o governo solicitou à ONU que os fertilizantes fossem excluídos das sanções à Rússia, justamente pelo risco que isso representaria à segurança alimentar internacional.
Agora, com a escalada das tensões e a possibilidade de sanções mais abrangentes, o Palácio do Planalto reforça que medidas punitivas não devem atingir países que buscam preservar sua segurança alimentar e energética por meio de relações comerciais legítimas.
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