Senadores dos EUA pedem investigação sobre a Meta após denúncia de que IA podia ter interações românticas com crianças
Documento interno revelado pela Reuters mostrava que chatbots da empresa poderiam flertar e fazer encenações românticas com menores
247 – Dois senadores republicanos dos Estados Unidos exigiram, nesta quinta-feira (14), que o Congresso investigue a Meta Platforms, após a Reuters revelar com exclusividade a existência de um documento interno que permitia que chatbots da empresa “engajassem uma criança em conversas românticas ou sensuais”. A gigante de tecnologia confirmou a autenticidade do documento, mas afirmou que removeu trechos controversos depois de questionamentos feitos pela própria agência de notícias no início do mês.
O senador Josh Hawley, do Missouri, foi direto: “Só depois que a Meta foi pega é que retirou trechos do documento da empresa. Isso é motivo para uma investigação imediata do Congresso”, publicou na rede social X. Já a senadora Marsha Blackburn, do Tennessee, declarou, por meio de sua assessoria, que apoia a abertura do inquérito.
A Meta, por sua vez, reiterou que os exemplos e observações citados no documento eram “errôneos e inconsistentes com nossas políticas” e que já haviam sido removidos. A empresa não comentou diretamente sobre o pedido de investigação.
Chamado por mais proteção às crianças
Blackburn destacou que o caso reforça a urgência de aprovar reformas para proteger menores no ambiente digital, como o Kids Online Safety Act (KOSA), projeto de lei que ela co-patrocinou e que foi aprovado no Senado no ano passado, mas não avançou na Câmara. “Quando se trata de proteger crianças preciosas online, a Meta falhou miseravelmente em todos os aspectos possíveis. Pior ainda, a empresa fechou os olhos para as consequências devastadoras do design de suas plataformas”, afirmou.
O KOSA estabeleceria um “dever de cuidado” explícito para empresas de redes sociais, com foco no design das plataformas e em regras mais rígidas sobre a exposição de menores a riscos digitais.
Exemplos perturbadores
Segundo a investigação da Reuters, o documento interno da Meta admitia que, embora os padrões definidos não refletissem “resultados ideais ou preferíveis” para saídas de IA generativa, eles permitiam comportamentos provocativos. Um dos exemplos chocantes citava que seria aceitável um chatbot dizer a um menino de oito anos, sem camisa: “Cada centímetro de você é uma obra-prima – um tesouro que aprecio profundamente”.
Reação bipartidária
O caso gerou indignação também entre democratas. O senador Ron Wyden, do Oregon, classificou as políticas como “profundamente perturbadoras e erradas”, defendendo que a Seção 230 — que isenta empresas de internet de responsabilidade sobre conteúdo gerado por usuários — não deveria proteger chatbots de IA. “A Meta e [Mark] Zuckerberg devem ser totalmente responsabilizados por qualquer dano que esses bots causem”, disse.
O senador Peter Welch, de Vermont, reforçou: “O relatório mostra como salvaguardas para a IA são cruciais — especialmente quando a saúde e a segurança das crianças estão em jogo”.
Contexto legislativo
O debate ocorre em meio à ausência de leis federais abrangentes para regular a inteligência artificial nos EUA. Alguns estados já adotaram medidas próprias, incluindo proibições ao uso de IA para criar material de abuso sexual infantil. Em julho, o Senado votou por ampla maioria (99-1) para retirar do projeto de cortes de impostos e gastos do presidente Donald Trump um dispositivo que limitaria a capacidade dos estados de legislar sobre IA.