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Estadão ataca isenção do IR, mas reconhece que Lula ganhou bandeira política

Editorial do jornal elitiza o debate tributário e critica a vitória do governo, mas admite que a medida fortalece Lula e beneficia milhões de brasileiros

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cerimônia de entrega de obras retomadas do Ministério da Educação na Ilha de Marajó. Orla de Breves – Pará (PA) Foto: Ricardo Stuckert / PR (Foto: Ricardo Stuckert)

247 – A aprovação pela Câmara dos Deputados da proposta que isenta do pagamento de Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil mensais e estabelece uma alíquota mínima de 10% sobre a alta renda foi uma vitória contundente do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O projeto obteve 493 votos favoráveis e nenhum contrário, resultado quase inédito no Congresso. A análise foi publicada em editorial do jornal O Estado de S. Paulo, que, apesar de reconhecer o peso político da conquista, adota um tom elitista e depreciativo ao tratar da medida.

Segundo o Estadão, a aprovação teria caráter “populista” e seria apenas um “puxadinho eleitoral”. A crítica ignora, no entanto, que a atualização da tabela do Imposto de Renda é uma demanda histórica da classe trabalhadora brasileira. Congelada desde 2014, a tabela penalizava sobretudo os assalariados de baixa e média renda, que viam sua carga tributária aumentar enquanto lucros e dividendos continuavam intocados.

Justiça fiscal e o medo da oposição

Ao chamar de “demagogia” a iniciativa, o editorial deixa clara sua dificuldade em aceitar medidas de redistribuição mínima da carga tributária em um dos países mais desiguais do mundo. O fato de 16 milhões de contribuintes serem beneficiados com isenção ou redução do imposto representa, sim, um passo concreto em direção à justiça fiscal.

Nem mesmo o PL de Jair Bolsonaro ousou votar contra, temendo o desgaste nas urnas. A oposição, que recentemente conseguiu impor derrotas ao governo, desta vez recuou, demonstrando fragilidade e falta de estratégia diante de uma proposta que toca em uma das principais feridas da sociedade brasileira: a desigualdade.

Dependência de Lira e tramitação no Senado

O Estadão também ressaltou o papel do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), relator do projeto, que articulou a votação sem descaracterizar a essência do texto elaborado pela equipe econômica. A crítica implícita é que Lula ainda dependeria da influência de Lira para avançar, mas o dado político central foi outro: o alinhamento amplo em torno da proposta.

No Senado, a expectativa é de aprovação tranquila. A Comissão de Assuntos Econômicos já havia votado texto semelhante em caráter terminativo, relatado por Renan Calheiros (MDB-AL), o que demonstra convergência entre as duas Casas.

O viés elitista do editorial

Ao tachar de “puxadinho” uma medida que corrige uma injustiça histórica contra milhões de trabalhadores, o Estadão escancara seu viés elitista. O jornal defende a tributação de lucros e dividendos — pauta correta — mas ao mesmo tempo desqualifica avanços concretos que aliviam o bolso da população. Ignora, assim, que a política se faz também com medidas de impacto imediato, especialmente em um cenário de desigualdade estrutural como o do Brasil.

A vitória do governo Lula no Congresso não é apenas simbólica. Trata-se de um marco na construção de uma agenda de justiça fiscal, que corrige distorções e fortalece o vínculo entre o presidente e a maioria trabalhadora. Por mais que setores da elite e parte da imprensa conservadora tentem desmerecer o feito, o fato é que Lula ganhou uma bandeira política poderosa — e, ao contrário do que afirma o Estadão, trata-se de um passo na direção certa.

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