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Chefe da BBC britânica renuncia após críticas sobre edição de documentário sobre Trump

Tim Davie e Deborah Turness renunciaram após acusações de parcialidade na emissora britânica sobre temas como Trump, Gaza e questões de gênero

Tim Davie (Foto: Reuters/Hannah McKay/Pool)

247 - O diretor-geral da BBC, Tim Davie, e a chefe de notícias da emissora, Deborah Turness, anunciaram suas renúncias neste domingo (9) após uma onda de críticas relacionadas à cobertura jornalística da rede. O caso ganhou força depois que o jornal Daily Telegraph divulgou um relatório interno que apontava falhas na cobertura do conflito Israel-Hamas, nas pautas sobre pessoas trans e na edição de um discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, segundo a Reuters.

O episódio que desencadeou a crise envolveu o programa Panorama, que editou trechos distintos de um discurso de Trump, dando a impressão de que ele incentivava a invasão ao Capitólio em 2021. O presidente norte-americano celebrou as demissões, chamando os executivos de “pessoas muito desonestas”. “Além de tudo, eles vêm de um país estrangeiro, que muitos consideram nosso principal aliado. Que coisa terrível para a democracia!”, escreveu Trump em uma rede social.

Renúncias e reações internas

Tim Davie, que comandava a BBC desde 2020, afirmou que a emissora continua sendo “o padrão ouro do jornalismo mundial”, mas admitiu erros e disse assumir total responsabilidade. “A BBC deve ser defendida, não usada como arma, por seu papel fundamental na construção de uma sociedade saudável e de um setor criativo próspero”, declarou. Ele continuará no cargo por alguns meses até que um substituto seja nomeado.

Deborah Turness também anunciou sua saída, negando categoricamente qualquer viés político na cobertura da BBC. Em e-mail aos funcionários, ela afirmou: “Quero ser absolutamente clara: as recentes alegações de que a BBC News é institucionalmente tendenciosa estão erradas".

Pressão crescente e desgaste institucional

Apesar de amplamente respeitada internacionalmente, a BBC enfrenta críticas constantes no Reino Unido por seu modelo de financiamento e por acusações de parcialidade tanto da direita quanto da esquerda política. O relatório vazado indicou que o canal árabe da emissora teria mostrado viés anti-Israel e que uma reportagem sobre grupos defensores de espaços unissexo teria sido barrada internamente por funcionários que a consideraram hostil à comunidade trans.

Nos últimos anos, a emissora também lidou com outras controvérsias. O apresentador esportivo Gary Lineker chegou a ser suspenso após criticar a política migratória do governo britânico, provocando um boicote temporário de colegas de redação. A BBC também foi alvo de críticas por exibir uma performance musical com protestos contra o Exército de Israel no festival de Glastonbury e por retirar do ar um documentário sobre Gaza por conter o filho de um ministro do governo do Hamas.

Governo britânico e o futuro da emissora

A ministra da Cultura, Lisa Nandy, elogiou o trabalho de Davie, afirmando que ele liderou a corporação em “um período de mudanças significativas”. Uma fonte próxima à direção relatou que a decisão pegou o conselho da BBC de surpresa.

O presidente do conselho, Samir Shah, deverá comparecer ao Parlamento na segunda-feira para prestar esclarecimentos sobre a crise. A emissora também se prepara para negociar, em 2027, uma nova carta com o governo britânico, que garantirá suas bases de financiamento nos próximos anos.

Com a saída de Davie e Turness, a BBC enfrenta um de seus momentos mais delicados em décadas, com sua credibilidade colocada à prova diante de um cenário político e midiático cada vez mais polarizado.

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