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Mundo deve financiar preservação da Amazônia, defende Nobel de Economia

Lars Peter Hansen afirma que transferências internacionais são essenciais para que o Brasil preserve e recupere sua floresta tropical

A iniciativa pretende reunir contribuições para fortalecer o jornalismo voltado à cobertura ambiental e à região amazônica (Foto: Ricardo Stuckert/Secom-PR)

247 - Apesar do Acordo de Paris e das promessas de redução de emissões, o planeta segue ampliando a liberação de gases de efeito estufa. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), os compromissos assumidos até agora — as chamadas NDCs (contribuições nacionalmente determinadas) — colocam o mundo no rumo de um aumento médio de temperatura entre 2,6°C e 2,8°C nas próximas décadas, destaca reportagem da Folha de S.Paulo, que entrevistou o economista norte-americano Lars Peter Hansen, laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 2013.

Em visita recente ao Brasil, Hansen defendeu que a comunidade internacional deve financiar os esforços para preservar e restaurar a floresta amazônica, considerada crucial para conter o aquecimento global.

A Amazônia como ferramenta de mitigação climática

Durante a COP30, conferência do clima da ONU que ocorrerá em Belém, o Brasil deve apresentar uma proposta que reconhece as florestas tropicais como aliadas estratégicas na absorção de carbono. O plano é sustentado por um estudo coassinado por Hansen, que avaliou o impacto do desmatamento e do reflorestamento na Amazônia brasileira.

Isso é algo que ajuda o mundo todo, não apenas o Brasil. O desafio é como o resto do mundo pode ajudar a incentivar o Brasil a preservar e restaurar sua floresta tropical”, afirmou o economista, em entrevista à Folha, durante conferência no Insper, em São Paulo.

Um incentivo econômico para reflorestar

O estudo, desenvolvido com os economistas brasileiros Juliano Assunção (PUC-Rio e Climate Policy Initiative) e José Alexandre Scheinkman (Universidade Columbia), além do cientista da computação Todd Munson (Argonne National Laboratory), conclui que o pagamento de US$ 25 por tonelada de carbono capturado seria suficiente para tornar economicamente atrativa a substituição da pecuária pelo reflorestamento.“Este é um custo relativamente baixo pelos padrões das mudanças climáticas — e capaz de fazer a Amazônia voltar a capturar uma quantidade importante de carbono”, explicou Hansen. Para comparação, o preço do carbono no mercado europeu é de cerca de US$ 75 por tonelada.

Atualmente, o desmatamento na Amazônia já atinge uma área equivalente ao estado do Texas, e a floresta passou a emitir mais carbono do que absorve. Mesmo assim, ainda armazena uma quantidade equivalente a todas as emissões dos Estados Unidos desde a Revolução Industrial.

Pagamento global e políticas locais

Para Hansen, a transição para um modelo sustentável depende de transferências internacionais de recursos. “São necessárias transferências internacionais para o Brasil, e o país precisa estruturar políticas que realmente incentivem os agricultores a mudar o uso da terra”, disse o Nobel.Ele reconhece que o desafio político é significativo: “As pessoas que agora se dedicam à agropecuária não podem simplesmente perder seu meio de vida. É preciso dar-lhes outras oportunidades e convencê-las de que esta outra maneira de usar a terra irá recompensá-las.”O economista defende que os incentivos financeiros podem transformar a dinâmica econômica da região em poucos anos: “Um aumento modesto no preço do carbono muda dramaticamente a dinâmica do uso da terra em dez ou quinze anos.”

O papel do setor privado e da COP30

Hansen considera que o setor privado também tem um papel crucial. “Investimentos em entidades como a Nature Conservancy podem torná-las mais produtivas. Indivíduos privados podem fazer doações sérias a essas entidades, que podem aconselhar governos sobre como usar recursos de transferências de maneira eficiente”, afirmou.Sobre a próxima conferência climática da ONU, o Nobel é otimista: “Vejo a COP30 como uma oportunidade para colocarmos na mesa as soluções baseadas na natureza, como o reflorestamento. O fato de haver economistas de ponta envolvidos pode tornar esta edição mais produtiva.”

Reavaliando o conceito de produtividade

Ao tratar da Amazônia como fonte de carbono, Hansen defende que é hora de repensar o conceito de “terra produtiva”. “Se eu sou um proprietário de terras, sei que posso criar vacas e vendê-las. Mas se cultivo árvores, o que eu ganho com isso?”, questionou. “É preciso reformular essa visão e garantir que quem opta por cultivar árvores seja recompensado por isso.”O economista conclui que soluções baseadas na natureza não bastam sozinhas, mas são parte essencial da resposta global às mudanças climáticas. “Precisamos de abordagens de curto prazo, como o reflorestamento, que nos deem mais tempo, e de abordagens de longo prazo, como o desenvolvimento de tecnologias limpas”, disse.Lars Peter Hansen, de 73 anos, é professor da Universidade de Chicago há mais de quatro décadas e um dos principais nomes da economia aplicada às mudanças climáticas. Para ele, o desafio agora é transformar conhecimento em ação: “Não será algo como: ‘Aqui está um monte de dinheiro, conserte isso’. O Brasil precisa criar mecanismos credíveis para garantir que os recursos realmente cheguem a quem protege a floresta.”

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