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Demora na licença da Margem Equatorial cobrou um preço altíssimo da Petrobras

Licença do Ibama saiu no limite do prazo e evitou perda de sonda, mas atraso já consumiu mais de R$ 1 bilhão e adiou o início da produção de petróleo

Fachada de prédio da Petrobras no Rio de Janeiro 04/2025 (Foto: Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

247 – A exploração de petróleo na Margem Equatorial brasileira, considerada a nova fronteira energética do país, só começou a ganhar fôlego após seis anos de espera. A licença ambiental concedida pelo Ibama para a perfuração do primeiro poço exploratório no bloco FZA-M-59, na costa do Amapá, foi emitida no último momento possível. A apuração é do portal Brazil Stock Guide.

O atraso quase custou caro à Petrobras, que estava prestes a perder a sonda de perfuração NS-42. O contrato venceria em 21 de outubro e, caso não houvesse autorização até essa data, todo o processo de licenciamento teria que ser reiniciado do zero. Segundo dados da Federação Única dos Petroleiros (FUP), desde 2022 a estatal já desembolsou cerca de R$ 1 bilhão somente em atividades relacionadas ao licenciamento ambiental e apoio logístico.

Desse montante, R$ 543 milhões foram destinados ao aluguel da sonda, R$ 327 milhões ao uso de embarcações de apoio e outros R$ 142 milhões a serviços de aviação. Na semana passada, a Petrobras informou ao Ibama que o valor de referência para o primeiro poço — o Morpho, um dos quatro previstos na bacia — é de R$ 800 milhões, incluindo implementação, seguros, licenciamento e programas de mitigação ambiental. A ironia é que a companhia já desembolsou mais do que isso apenas esperando a autorização do órgão ambiental.

Prejuízos com a demora

Os cálculos indicam que o custo da espera ultrapassou o valor de perfuração do poço. Caso o projeto tivesse começado dois anos antes, como previsto inicialmente, o primeiro óleo poderia ser extraído em 2027, e não em 2029. Considerando um projeto padrão de águas profundas de 200 mil barris por dia, o atraso representa uma perda de aproximadamente R$ 12 bilhões em lucro líquido não realizado.

Se forem considerados dois FPSOs operando na região, o valor das oportunidades perdidas pode chegar a R$ 25 bilhões, somados a mais R$ 3 a R$ 4 bilhões em impostos e royalties que deixaram de ser arrecadados. A cautela institucional, nesse caso, tem preço mensurável.

Ibama defende rigor, Petrobras arca com a conta

O Ibama afirma que o longo processo de análise é prova de rigor institucional. Exigiu novos centros de reabilitação de fauna, embarcações adicionais e até um simulado de emergência com 400 pessoas antes de autorizar a perfuração. Politicamente, o governo do presidente Lula fortaleceu sua imagem ambiental; financeiramente, foi a Petrobras quem absorveu os custos.

Vizinhos avançam mais rápido

Enquanto o Brasil ainda inicia a perfuração do primeiro poço, os países vizinhos avançam rapidamente. A Guiana vive um boom petrolífero com seis FPSOs já operando, sob o consórcio ExxonMobil–Hess–CNOOC, produzindo 650 mil barris por dia. A expectativa é dobrar a produção para 1,3 milhão de barris diários até 2027, colocando o pequeno país entre os maiores produtores emergentes do mundo.

O Suriname também se move. O país autorizou seu primeiro projeto de 200 mil barris por dia, com início previsto para 2028. A diferença entre Brasil e seus vizinhos não está no potencial geológico, mas no tempo de execução.

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