Timofey Bordachev, do Valdai Club, explica por que Putin e Trump precisaram se encontrar pessoalmente
Analista russo destaca que a reunião no Alasca foi essencial para evitar um desastre nuclear e iniciar um novo processo diplomático
247 – A reunião entre o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, realizada no Alasca, não deve ser vista como um ponto final, mas como o início de uma longa jornada diplomática. A análise é de Timofey Bordachev, diretor do programa do Valdai Club, publicada originalmente no jornal Vzglyad e traduzida pela RT.
Segundo Bordachev, a história mostra que encontros de cúpula entre líderes mundiais raramente mudam o rumo da política internacional, mas podem desempenhar papel decisivo para evitar catástrofes. “O simples fato de negociações diretas ocorrerem é uma medida de quão perto ou longe estamos da catástrofe”, afirmou.
O peso histórico dos encontros
O analista lembra que o encontro foi comparado a momentos emblemáticos da história, como a reunião de 1807 entre os imperadores da Rússia e da França, no Rio Neman. Ele cita ainda que, no Congresso de Viena de 1815, o czar Alexandre I tentou impor sua visão pessoal para a Europa, mas fracassou diante dos interesses das demais potências.
Bordachev ressalta que a tradição de encontros decisivos entre líderes capazes de determinar o destino do planeta é herança da Guerra Fria, quando Moscou e Washington tinham o poder de destruir ou salvar a humanidade. Hoje, argumenta, essa lógica permanece, já que apenas Rússia e Estados Unidos possuem arsenais nucleares capazes de pôr fim à civilização.
O simbolismo do Alasca
De acordo com Bordachev, o Alasca não representa apenas mais uma reunião bilateral, mas um símbolo da proximidade com o limite de um conflito sem retorno. Para ele, embora não seja possível esperar um “novo equilíbrio” a partir de um único encontro, o simples gesto de diálogo carrega importância fundamental.
“Em um mundo onde apenas duas potências permanecem invencíveis, não existe dever mais importante para seus líderes do que falar diretamente um com o outro”, escreveu o analista.
Expectativas e limites
O analista ressalta que o encontro dificilmente criará uma nova ordem internacional, mas pode abrir caminho para um processo prolongado de negociações. Ele compara o momento atual à preparação para a Cúpula de Genebra de 2021, que não trouxe soluções imediatas, mas antecedeu uma escalada de tensões e sanções.
Para Bordachev, a reunião do Alasca é um lembrete de que, apesar das rivalidades e das disputas estratégicas, o diálogo entre Rússia e Estados Unidos é uma necessidade existencial para o futuro da humanidade.