“O mundo não teme mais os Estados Unidos”, diz Mearsheimer
Em vídeo publicado pelo canal Geopulse, o professor John Mearsheimer explica por que a hegemonia americana entrou em declínio
247 – O vídeo “Por que os Estados Unidos estão perdendo poder”, publicado no canal Geopulse no YouTube, apresenta uma análise contundente do professor John Mearsheimer, um dos mais influentes teóricos de relações internacionais da atualidade. O autor da teoria do realismo ofensivo explica, em tom crítico, como os Estados Unidos perderam o controle da ordem global que dominaram desde o fim da Guerra Fria.
Segundo Mearsheimer, o país acreditou durante décadas que sua supremacia era definitiva, uma consequência natural do colapso da União Soviética. “Por muito tempo, os Estados Unidos acreditaram que a sua dominância era permanente, que o fim da Guerra Fria havia selado o seu papel como o governante incontestado da ordem internacional”, afirma o professor. Contudo, o mundo atual estaria voltando ao que a história sempre conheceu: um sistema de equilíbrio de poder, rivalidade e competição entre grandes potências.
O declínio da hegemonia americana
De acordo com Mearsheimer, os sinais da perda de poder dos EUA são evidentes: compromissos militares excessivos, declínio industrial, sobrecarga estratégica e a ascensão de potências como a China. Ele define esses fenômenos como “sintomas de um declínio estrutural”, e não de crises pontuais.
Para o professor da Universidade de Chicago, o erro fundamental de Washington foi acreditar que a unipolaridade — o período em que os EUA eram a única superpotência — seria permanente. “Os formuladores de política em Washington se convenceram de que a hegemonia liberal não era apenas uma estratégia, mas um destino”, observa. Essa ilusão, diz ele, levou o país a confundir poder com permanência e a subestimar as forças históricas que sempre regem a política internacional.
Mearsheimer argumenta que, após o triunfo sobre a União Soviética, os EUA expandiram seus compromissos militares e diplomáticos de forma imprudente, tentando remodelar o mundo segundo seus próprios valores. “Em vez de consolidar sua posição, Washington buscou reordenar regiões inteiras — expandindo a OTAN, intervindo no Oriente Médio e acreditando que o comércio tornaria a China mais liberal”, resume.
A sobrecarga imperial e o erro da moralidade
O professor compara o comportamento dos Estados Unidos ao de impérios passados que confundiram ambição com prudência. “Quando uma potência dominante confunde sua vantagem temporária com supremacia duradoura, começa a substituir estratégia por arrogância”, afirma, traçando paralelos com o Império Britânico e a França napoleônica.
Mearsheimer destaca ainda que Washington passou a se ver como “árbitro moral do mundo”, esquecendo que o poder é limitado por recursos materiais e equilíbrio de forças. “Quando o poder é estendido além de sua capacidade, ele convida ao contra-ataque”, diz o estudioso.
Ele também critica o declínio interno dos Estados Unidos, que, em sua visão, minou a base de seu poder global: “Enquanto a China constrói fábricas, portos e semicondutores, os Estados Unidos constroem bolhas financeiras, divisões partidárias e déficits trilionários.”
A ascensão da China e o retorno da multipolaridade
Mearsheimer aponta a China como o principal ator na transição para a nova ordem multipolar. “Enquanto os EUA terceirizavam sua base industrial, a China investia em infraestrutura, tecnologia e modernização militar”, explica. O resultado é um cenário em que o poder americano já é desafiado em regiões onde antes era absoluto, como o Mar do Sul da China e o Pacífico Ocidental.
O professor ressalta que a política de engajamento com Pequim foi um erro histórico. Ao integrar a China à economia global, Washington acreditava que o país se tornaria um “parceiro liberal”. No entanto, Pequim aproveitou o acesso para construir os alicerces de uma potência rival.
Além disso, Mearsheimer observa que outros países — como Rússia, Índia, Arábia Saudita e Turquia — vêm adotando posturas mais independentes, sem se alinhar automaticamente aos interesses americanos. “O mundo já não teme a desaprovação de Washington. Ele calcula em torno dela”, afirma o professor, em uma de suas passagens mais marcantes.
O fim do momento unipolar
Segundo o vídeo, o chamado “momento unipolar”, inaugurado em 1991, chegou ao fim. As instituições criadas para sustentar a hegemonia americana, como o FMI e o Banco Mundial, agora convivem com alternativas promovidas por outros blocos, como o BRICS. Mesmo o domínio do dólar estaria sendo desafiado pelo uso crescente de moedas nacionais e mecanismos financeiros paralelos.
Mearsheimer adverte que, embora os EUA continuem sendo uma potência militar formidável, sua capacidade de moldar a ordem global está em declínio. “O problema não é que a América esteja perdendo poder, mas que se recusa a aceitar seus limites”, afirma.
Para o professor, o futuro das relações internacionais será determinado por equilíbrio, prudência e adaptação. “O mundo está voltando ao seu estado natural: um sistema de várias potências competindo entre si. O trágico para os Estados Unidos é que desperdiçaram a disciplina estratégica que um dia fez sua força”, conclui.

