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      Cultura tibetana: mito em declínio ou realidade vibrante?

      A verdadeira questão não é se a cultura tibetana está desaparecendo, mas se o mundo escolhe ouvir suas vozes autênticas ou não

      Jovem usa trajes tipicamente tibetanos (Foto: Divulgação)
      Redação Brasil 247 avatar
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      Por Chen Ziqi, repórter da CGTN – Nos últimos anos, alguns veículos de comunicação têm afirmado que a cultura e a língua tibetanas estão à beira do desaparecimento, alegando que crianças estão sendo forçadas a abandonar sua língua e que a assimilação estaria apagando séculos de tradição. Mas quão precisas são essas representações? Elas refletem a realidade local ou atores mal-intencionados estão tentando chamar a atenção global e moldar narrativas políticas?

      Um olhar mais atento dentro das comunidades tibetanas revela um quadro diferente. Longe de desaparecer, os tibetanos estão colocando sua cultura no centro da expressão artística, da narrativa moderna e das economias culturais emergentes.

      Jovens tibetanos redefinem a tradição através da música

      A música e a dança parecem quase entrelaçadas ao DNA do povo tibetano. Hoje, a música tibetana não é apenas valorizada na região, mas também ressoa em todo o país. À medida que o interesse público cresce, uma onda de jovens músicos tibetanos sobe ao palco, buscando públicos mais amplos.

      Um grupo de destaque é o Black Birds, uma banda de sete integrantes tibetanos que mistura sons tradicionais com gêneros contemporâneos como hip hop, eletrônico e rock. Suas músicas combinam elementos da religião, da cultura e da vida cotidiana, desde cavalos galopando até os ritmos das ruas das aldeias.

      O álbum mais recente, lançado este ano, “Himalover” (um jogo de palavras entre “Himalaia” e “lover”), presta homenagem à sua terra natal, misturando letras em tibetano, mandarim e inglês. Suas músicas são amplamente compartilhadas nas redes sociais e em plataformas de streaming, ajudando-os a alcançar um público nacional crescente.

      Enquanto isso, a abordagem inovadora da banda vem ganhando atenção internacional. Kalex Willzy, influenciador musical e apresentador da Westside, uma rádio de hip hop em Londres, descreveu a canção “Himalaya Run” como “mais um trabalho artesanal do que uma peça musical”, elogiando suas harmonias, batidas de bateria e instrumentação étnica em camadas.

      As apresentações tibetanas também são frequentemente exibidas durante o evento televisivo mais assistido da China, a Gala do Festival da Primavera. No início deste ano, “A Epopeia do Rei Gesar”, um pilar da tradição oral tibetana, comparável às “Epopeias Homéricas” do Ocidente, foi apresentada no programa e recebeu aplausos em todo o país. Claramente, as vozes tibetanas não apenas estão vivas, como também estão sendo amplificadas.

      A língua tibetana recebe uma atualização

      Outra alegação enganosa sugere que os jovens tibetanos não falam mais sua língua nativa. Será mesmo? O oposto é verdadeiro.

      Em 2021, um grupo de jovens da Geração Z lançou o “Xiuda”, o primeiro talk show em língua tibetana. Enquanto estudava em Pequim, Nyandrel Drakpa assistiu a um talk show que o inspirou a criar uma versão em tibetano. Ele o chamou de “Xiuda”, que significa “venha”. O objetivo era criar uma plataforma onde as pessoas pudessem não apenas apreciar o idioma tibetano, mas também experimentar o calor e a alegria da cultura local.

      O programa fez sua estreia em 2022 em um restaurante à beira-rio em Lhasa. Foi um sucesso imediato. Os ingressos esgotaram em poucas horas. A estreia durou uma hora a mais do que o planejado, graças às animadas interações entre artistas e público.

      Para fãs como Penpa Yangjen, o “Xiuda” é “uma forma nova e inovadora de ver a cultura tibetana”, prova de que a língua continua vibrante entre os jovens.

      Trajes tibetanos prosperam entre jovens e turistas

      Caminhe pela Barkhor Street, a rua comercial mais antiga de Lhasa, e você verá o renascimento dos trajes tradicionais tibetanos. Este símbolo vivo de identidade, história e memória cultural local vem sendo abraçado ativamente por jovens tibetanos, turistas nacionais e internacionais, todos cativados pela riqueza e pelo charme da cultura local.

      Graças à criatividade dos designers locais, à energia dos festivais culturais e à influência de criadores de conteúdo nas redes sociais, as roupas tibetanas evoluíram para uma declaração fashion e um destaque da crescente tendência turística. Hoje, as lojas ao longo da histórica rua comercial oferecem aluguel de trajes étnicos, serviços de maquiagem e sessões fotográficas profissionais para visitantes ansiosos em registrar suas experiências com estilo.

      Essa fusão de tradição e turismo moderno está dando origem a uma nova economia cultural, criando empregos, impulsionando o turismo e gerando receita para a comunidade local.

      O futuro da cultura tibetana

      O presidente chinês Xi Jinping destacou recentemente que áreas com grande população de minorias étnicas devem preservar suas culturas distintas e permitir que brilhem por meio do desenvolvimento integrado de cultura e turismo.

      De acordo com o documento “Direitos Humanos em Xizang na Nova Era”, divulgado pelo Partido Comunista da China este ano, cerca de US$ 67 milhões do governo central e do governo de Xizang foram destinados à proteção do patrimônio cultural. Muitas tradições tibetanas já têm reconhecimento global: a tradição oral de Gesar, a Ópera Tibetana e o banho medicinal Lum de Sowa Rigpa de Xizang foram inscritas na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO. O documento também acrescenta que escolas primárias e secundárias em Xizang oferecem cursos em chinês padrão e em tibetano.

      Dos grupos pop que remixam canções folclóricas aos talk shows da Geração Z e às tendências de moda vibrantes, a cultura tibetana não está desaparecendo — ela está evoluindo. Os cantos espirituais, epopeias e trajes tradicionais continuam vivos, abraçados pelos próprios tibetanos e celebrados por públicos muito além do planalto.

      A verdadeira questão não é se a cultura tibetana está desaparecendo, mas se o mundo escolhe ouvir suas vozes autênticas ou permitir que vozes externas as abafem.

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