China transforma terras raras em arma geopolítica e Trump reage com tarifas e retaliação
John Mearsheimer explica como o controle chinês sobre minerais estratégicos levou os Estados Unidos a adotar tarifas como instrumento de poder nacional
247 – A escalada da disputa entre Estados Unidos e China atingiu um novo patamar com a decisão de Pequim de restringir a exportação de terras raras, elementos essenciais para tecnologias de ponta e equipamentos militares. A análise é do professor John Mearsheimer, em vídeo publicado no YouTube com o título “China Weaponizes Rare Earths – Washington Strikes Back”.
Segundo o especialista em relações internacionais, o então presidente Donald Trump respondeu de forma agressiva, classificando as medidas chinesas como “completamente inaceitáveis” e transformando tarifas comerciais em armas estratégicas de Estado.
Disputa comercial vira confronto de segurança nacional
Mearsheimer explica que a política de controle chinês sobre produtos que contenham terras raras não é um simples ato comercial, mas uma manobra geopolítica. Ao condicionar a exportação desses materiais à aprovação do governo, Pequim passa a ditar quem terá acesso a componentes essenciais de setores como defesa, energia limpa e semicondutores. “O que está em jogo é o controle sobre o futuro das indústrias de alta tecnologia”, observa o analista.
Trump, por sua vez, rompeu com a tradição de ver o comércio como um espaço de cooperação econômica. Para ele, a interdependência entre as duas potências se transformou em uma armadilha estratégica, capaz de expor os Estados Unidos à vulnerabilidade. “Controlar as terras raras é controlar o futuro”, disse o professor, sintetizando a lógica que orientou a resposta americana.
Tarifa como arma de coerção
De acordo com Mearsheimer, o governo Trump elevou tarifas e impôs restrições não para equilibrar contas, mas para coagir o rival. As tarifas, afirma, “funcionam como artilharia econômica” — projetadas para impor custos e testar a resistência de Pequim sem recorrer a confrontos militares. Essa estratégia marcou uma guinada em relação à lógica liberal da globalização, substituindo a ideia de ganhos mútuos pela do realismo clássico, onde poder e coerção definem as regras.
O professor destaca que a retaliação americana também tinha função política interna. Ao endurecer contra a China, Trump procurava demonstrar força e defender a soberania dos EUA perante seu eleitorado, convertendo a disputa econômica em teatro político doméstico.
A armadilha da coerção mútua
A postura assertiva de Washington, segundo Mearsheimer, forçou Pequim a reagir. Se cede, a China parece fraca; se endurece, arrisca comprometer o próprio modelo de crescimento. Esse dilema, afirma, cria uma armadilha de coerção mútua, na qual cada movimento de uma potência leva à escalada da outra. “Nenhum dos dois lados pode recuar sem parecer vulnerável, e vulnerabilidade é um pecado mortal na política de grandes potências”, observa.
A lógica, alerta Mearsheimer, tende a cristalizar a rivalidade estrutural entre as duas economias. A interdependência, antes vista como garantia de estabilidade, agora é percebida como fonte de risco estratégico.
O impacto global da disputa
As consequências desse confronto ultrapassam as fronteiras dos dois países. Terras raras estão presentes em praticamente todos os setores de alta tecnologia — de veículos elétricos a sistemas de defesa e energia renovável. A disputa sino-americana ameaça desestabilizar cadeias de suprimentos globais, pressionando aliados dos EUA, como Japão, Coreia do Sul e países europeus, a escolher lados em um mundo que se fragmenta entre duas esferas de poder.
Para o professor Mearsheimer, o episódio marca o fim da ilusão de que a globalização traria paz entre as grandes potências. “O que vemos é o retorno da política de poder em sua forma econômica. O comércio deixou de ser um campo de cooperação e se tornou o campo de batalha do século XXI”, conclui.



