Tarifa dos EUA abala indústria automobilística alemã e impulsiona busca por oportunidades na Ásia
Desde o início do ano, BMW, Mercedes-Benz e Volkswagen registraram quedas expressivas em seus lucros
247 - A indústria automobilística da Alemanha enfrenta uma forte crise após o aumento das tarifas dos Estados Unidos sobre veículos fabricados na União Europeia, que entraram em vigor em abril e impactaram significativamente os resultados financeiros das maiores montadoras do país. A reportagem, originalmente publicada pela Xinhua, destaca os efeitos desse choque tarifário e as estratégias das empresas para driblar a instabilidade comercial, com foco na expansão do mercado asiático.
Desde o início do ano, BMW, Mercedes-Benz e Volkswagen registraram quedas expressivas em seus lucros, atribuídas principalmente ao aumento dos custos provocados pelas tarifas americanas. A recente redução do imposto de 25% para 15% aliviou temporariamente a situação, mas analistas alertam que os desafios persistem devido aos custos elevados e à incerteza política, que continuam afetando a confiança do setor manufatureiro alemão.
BMW divulgou queda de 8,2% na receita e 29% no lucro líquido no primeiro semestre de 2025, destacando que "as tarifas elevadas foram um fator chave para a redução das margens em seu negócio principal". A Mercedes-Benz reportou queda de quase 56% no lucro líquido, passando de 6,1 bilhões para 2,7 bilhões de euros. A Volkswagen registrou uma leve redução de 0,3% na receita, mas sua marca de luxo Porsche sofreu um impacto significativo, com custos adicionais relacionados a tarifas estimados em 400 milhões de euros no mesmo período.
Além dos impactos diretos nas vendas, o fluxo de caixa das montadoras está sob forte pressão. Segundo o Financial Times, a combinação dos custos tarifários e as condições econômicas adversas podem reduzir em até 10 bilhões de euros o fluxo de caixa livre conjunto dessas empresas em 2025.
A presidente da Associação Alemã da Indústria Automobilística (VDA), Hildegard Mueller, afirmou que mesmo com a redução das tarifas, os custos adicionais ainda somam bilhões de euros anuais, "um fardo pesado enquanto navegamos pela transição fundamental rumo à eletrificação". Já Sigrid de Vries, diretora geral da Associação Europeia dos Fabricantes de Automóveis, alertou que as tarifas americanas elevadas "colocam em risco a competitividade global da indústria europeia, desestabilizam as cadeias de suprimentos nos EUA e prejudicam os consumidores".
O problema vai além do impacto tarifário imediato. A imposição de taxas de até 50% sobre a importação de aço, alumínio e outros insumos pela administração americana tem levado fornecedores a repassar os custos às montadoras, comprimindo ainda mais as margens de lucro. A produção transnacional também expõe as empresas a volatilidades políticas, já que aproximadamente metade dos veículos produzidos em fábricas alemãs nos EUA são exportados globalmente.
Oliver Blume, CEO da Volkswagen, revelou que as plantas americanas do grupo sofreram custos extras de cerca de 1,3 bilhão de euros nos primeiros seis meses de 2025. Juergen Rittersberger, diretor financeiro da Audi, estimou perdas próximas a 600 milhões de euros devido às tarifas.
A situação econômica difícil tem provocado demissões e fechamento de fábricas por parte de várias montadoras e fornecedores, incluindo nomes como Ford, Stellantis, Volkswagen, ZF e Bosch, agravando o quadro de competitividade industrial na Europa em meio ao aumento dos custos de energia e mão de obra.
Diante do cenário incerto e da instabilidade comercial no Atlântico Norte, um número crescente de empresas alemãs tem voltado o olhar para a Ásia, especialmente para a China, que oferece um ambiente regulatório mais estável e perspectivas claras de crescimento. Através de produção local, parcerias tecnológicas e investimentos estratégicos, as montadoras buscam fortalecer sua presença no continente e acelerar a transformação estrutural.
Arno Antlitz, diretor financeiro e de operações da Volkswagen, destacou sua "forte confiança na expansão das plataformas locais e parcerias em baterias no mercado chinês". A BMW, por sua vez, anunciou uma colaboração com a empresa chinesa Momenta para desenvolver sistemas avançados de assistência ao motorista, adaptados ao consumidor local.
Sean Green, presidente e CEO da BMW na China, ressaltou que "esta poderosa colaboração, com a sabedoria da China, fundamenta a estratégia da BMW de 'Na China, para a China e co-criação na velocidade da China', levando-a a novos patamares". Ele enfatizou a importância da inovação conjunta e da complementaridade das forças para alcançar avanços significativos.
O especialista alemão Ferdinand Dudenhoeffer afirmou que "o futuro da indústria automotiva está na China", defendendo a ampliação da cooperação entre atores alemães e chineses ao longo da cadeia de valor. Segundo ele, enquanto BMW e Porsche destacam-se pela performance, e Mercedes-Benz lidera em design e conforto, todas as três montadoras dependem cada vez mais da expertise chinesa em tecnologia de baterias e produção em escala para manter a competitividade.
Por fim, Michael Schumann, presidente da Associação Federal Alemã para o Desenvolvimento Econômico e Comércio Exterior, alertou que o sistema comercial global enfrenta crescente tensão, com o comércio sendo cada vez mais usado como ferramenta geopolítica. "Em um mundo fragmentado, a China pode representar um dos pilares de estabilidade regulatória para empresas internacionais", afirmou, reforçando a importância de estratégias diversificadas em um cenário global instável.
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