China, Afeganistão e Paquistão discutem segurança cooperativa em diálogo trilateral
Wang Yi defende aprofundamento da confiança e da cooperação regional diante de desafios de segurança
247 – O Global Times noticiou que, nesta quarta-feira (20), foi realizada em Cabul a sexta rodada do diálogo trilateral de chanceleres entre China, Afeganistão e Paquistão. O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, defendeu o fortalecimento da confiança mútua e dos intercâmbios entre os três países, conclamando-os a seguir o caminho da “segurança cooperativa e comum”. A reunião ocorre em meio a um cenário regional frágil, marcado por instabilidade e rivalidades externas.
Segundo Wang Yi, a cooperação regional é a única via capaz de garantir estabilidade a longo prazo. O chanceler destacou que nenhuma nação pode, de forma isolada, enfrentar os desafios da segurança contemporânea. “Segurança cooperativa e comum” significa, de acordo com especialistas ouvidos pelo Global Times, respeitar os interesses de segurança de cada país e evitar acordos exclusivos com potências externas que possam gerar desconfiança ou instabilidade.
Relações complexas e papel da China como mediadora
Historicamente, as relações entre Afeganistão e Paquistão têm sido marcadas por tensões. Apesar de compartilharem vínculos culturais, étnicos e religiosos, disputas de fronteira, fluxos de refugiados e o terrorismo têm aprofundado os atritos recentes. Nesse contexto, Pequim conseguiu manter boas relações com ambos, tornando-se um ator estratégico capaz de construir pontes. Um exemplo desse papel foi a restauração das relações diplomáticas entre Cabul e Islamabad após uma rodada do diálogo trilateral em maio, mediada pela China.
O fato de o mecanismo trilateral persistir demonstra, segundo analistas, que há consenso sobre a importância da paz e do desenvolvimento. Em uma região onde riscos de segurança frequentemente bloqueiam iniciativas de cooperação, a simples disposição em sentar-se à mesa já reflete vontade política e reconhecimento da interdependência.
Implicações estratégicas e conexões multilaterais
O conceito de “segurança cooperativa e comum” vai além do combate ao terrorismo. Para Lin Minwang, vice-diretor do Centro de Estudos do Sul da Ásia da Universidade Fudan, trata-se de um chamado para que nenhuma das partes importe rivalidades geopolíticas externas para dentro da região, já fragilizada.
A reunião em Cabul também antecede a cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), em Tianjin, onde o Afeganistão deve figurar novamente como tema central. Nesse sentido, o encontro trilateral pode ser visto como um passo preparatório para debates mais amplos no âmbito da OCX.
Novos campos de cooperação
Analistas como Zhu Yongbiao, diretor executivo do Centro de Pesquisa da Nova Rota da Seda na Universidade de Lanzhou, avaliam que o formato trilateral tende a se consolidar, não apenas como fórum de segurança, mas como estrutura abrangente de cooperação. Entre os campos possíveis de atuação estão ajuda humanitária, redução da pobreza, saúde, conectividade de infraestrutura e intercâmbios culturais.
Além disso, o mecanismo pode se articular com outras plataformas multilaterais, como a reunião de chanceleres dos países vizinhos do Afeganistão e até mesmo a Cúpula China-Ásia Central, diante do interesse dos países centro-asiáticos na estabilidade afegã.
Caminho regional para estabilidade
Para o Afeganistão, historicamente marcado por intervenções externas e fragmentação interna, analistas concordam que nem políticas unilaterais nem presença militar estrangeira oferecem solução sustentável. O caminho viável é a cooperação regional, pautada pelo diálogo e pelo reconhecimento dos interesses comuns.
A mensagem deixada pelo encontro em Cabul é clara: em meio à complexidade, a cooperação segue sendo a opção mais realista — e racional — para garantir estabilidade e desenvolvimento compartilhado.