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Ualid Rabah afirma: “A guerra em Gaza não começou em 7 de outubro”

Presidente da Fepal aponta os Estados Unidos como principais responsáveis pela escalada no Oriente Médio e critica apoio tecnológico ao genocídio palestino

Ualid Rabah afirma: “A guerra em Gaza não começou em 7 de outubro” (Foto: Reuters | Divulgação)

247 - Durante participação no programa Boa Noite 247, o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Ualid Rabah, afirmou que “a guerra em Gaza não começou em 7 de outubro”, ao rebater narrativas que tratam aquele dia como marco inicial do conflito. Para Rabah, é fundamental compreender o massacre palestino dentro de um contexto histórico e geopolítico mais amplo.

Rabah apontou os Estados Unidos como atores centrais da ofensiva israelense contra Gaza e classificou a situação como parte de uma lógica imperialista sustentada por alianças militares, tecnológicas e estratégicas. “Israel age como executor. Mas esta é uma guerra dos Estados Unidos”, disse.

Segundo Rabah, os ataques israelenses fazem parte de uma política mais ampla de destruição do Oriente Médio, iniciada há pelo menos duas décadas com intervenções militares que devastaram países como Iraque, Líbia, Síria, Iêmen e Sudão. “A questão palestina foi isolada do restante porque desaparece um campo, em tese, anti-imperialista, com a destruição desses países”, afirmou. Ele destacou que, enquanto os países árabes foram fragilizados, aliados estratégicos dos Estados Unidos na região — como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Catar e Turquia — foram fortalecidos.

Rabah denunciou que Gaza vive uma fase terminal do genocídio. Segundo ele, plantações, fábricas, usinas e centros de distribuição de alimentos e água foram bombardeados. “A população de Gaza só tem 3% da capacidade anterior de dessalinização funcionando”, afirmou, ressaltando que o objetivo é tornar a sobrevivência impossível e forçar o deslocamento em massa da população. “Estão administrando a fome para expulsar os palestinos.”

O presidente da Fepal também criticou o chamado “plano de anistia” promovido pelos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos. Segundo Rabah, esse plano colocaria o grupo Hamas diante de uma escolha perversa: aceitar a anistia e, com isso, renunciar ao direito de resistência e autodeterminação, ou manter a luta e ser equiparado a um agressor. “Se aceitar essa maluquice, vai se igualar ao agressor. Vai relativizar o direito legítimo do povo palestino à luta por libertação.”

Rabah fez duras críticas ao papel das grandes potências ocidentais, das empresas de tecnologia e da indústria bélica israelense. Ele afirmou que o genocídio tem sido defendido como avanço científico e tecnológico, com armamentos testados em Gaza sendo exibidos em campanhas publicitárias. “Isso nos faz recuar ao tempo em que o colonialismo se vangloriava de ser superior tecnologicamente.”

A tentativa de impedir a ajuda humanitária foi outro ponto abordado por Rabah. Ao comentar sobre a flotilha com voluntários e mantimentos que foi impedida de chegar a Gaza, ele afirmou que o bloqueio equivale à extensão do crime de genocídio. “Impor fome e doença a uma população é, segundo a convenção para o genocídio, um ato genocidário. Quem impede que isso seja interrompido é corresponsável.”

O líder palestino destacou ainda a mudança na percepção global sobre o conflito. Segundo ele, cresce o número de pessoas no Ocidente que rejeitam a posição de Israel. Citando pesquisas, afirmou que cerca de 70% da população da Europa e do Japão são contrárias ao governo israelense, e que nos Estados Unidos a rejeição já supera o apoio. “Pela primeira vez, as pessoas estão duvidando dos grandes veículos de comunicação e do discurso dos seus líderes.”

Rabah ressaltou que essa mudança de opinião pública pode ser um sinal de derrota estratégica do Ocidente e de Israel. Ele também apontou que a entrada de países como Irã, Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos no grupo dos Brics representa uma reorganização geopolítica com potencial de enfraquecer a hegemonia dos Estados Unidos.

Apesar disso, alertou que nada garante a curto prazo a proteção efetiva do povo palestino. “Nunca vi no Brasil pessoas simples na esquina discutindo sionismo. Há mudanças. Mas como isso vai beneficiar o povo palestino agora, para cessar os atos genocidários, isso ainda não está claro”, lamentou.

No encerramento, Rabah ironizou a contradição entre o projeto sionista laico de Israel e a ascensão de setores ultraortodoxos que defendem a transformação do Estado em uma teocracia. “A elite que enganou o mundo com os kibutzim e com a ‘democracia israelense’ agora está emparedada por aqueles que dizem que isso aqui é para ser uma teocracia. Praia não. Whisky, também não.” Assista:

 

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