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“Achei que não sairíamos vivos", diz Miguel Viveiros, da Flotilha pela Liberdade sequestrada por Israel

Ativista brasileiro detalha, em entrevista ao Boa Noite 247, as horas de terror vividas após a interceptação da missão humanitária por forças israelenses

“Achei que não sairíamos vivos", diz Miguel Viveiros, da Flotilha pela Liberdade sequestrada por Israel (Foto: Reprodução)

247 - Em entrevista ao Boa Noite 247, o ativista Miguel Viveiros, um dos brasileiros sequestrados por Israel durante a missão humanitária Flotilha pela Liberdade, relatou em detalhes as horas de perseguição em alto-mar, a invasão armada dos barcos e os dias de prisão em condições degradantes. 

“Achei que não sairíamos vivos”, afirmou. O grupo foi libertado após uma semana de detenção e recebido com solidariedade na Jordânia.

A embarcação em que Viveiros estava foi interceptada na madrugada do dia 2 de outubro, quando já se aproximava da Faixa de Gaza. “Eles sabiam exatamente a posição de cada barco, o nome do comandante e a ordem da flotilha. Parecia uma operação militar de elite. Viemos sendo perseguidos por sete horas, até que, às quatro da manhã, eles conseguiram parar o nosso barco”, contou.

Segundo o ativista, os soldados israelenses entraram com armas pesadas e lasers apontados para os rostos da tripulação, obrigando todos a levantar as mãos e jogar os celulares ao mar. “Eles tomaram o controle do barco e nos mantiveram trancados em uma cabine minúscula. É importante dizer: isso não foi prisão, foi sequestro. Estávamos em águas internacionais, e eles agiram como piratas.”

Após o embarque forçado rumo a Israel, Viveiros descreveu o momento mais brutal da captura: “Quando chegamos ao porto, nos jogaram no chão, nos fizeram ficar de joelhos no asfalto, sob o sol, por horas. Só nos deixaram beber água depois de dez ou doze horas. Foi um tratamento desumano”, contou.

Na prisão, os brasileiros e outros integrantes da flotilha, composta por mais de 500 pessoas de dezenas de países, ficaram em celas superlotadas e sob vigilância constante. “Era um campo de concentração para palestinos”, disse Miguel. “Nós éramos os ‘prisioneiros VIPs’. Eles sabiam que não podiam nos tratar como tratam os palestinos, mas era visível o ódio, a vontade de nos agredir", 

Mesmo detidos, os ativistas conseguiram se organizar dentro da prisão. “Quando negaram insulina a um preso diabético, começamos a gritar todos juntos: ‘Insuline for Sixteen!’ até eles levarem um médico. Foi uma forma de resistência. A gente se impunha de alguma maneira para exigir o mínimo de respeito”, frisou.

Durante a entrevista, Miguel emocionou-se ao narrar o momento em que soube que, por causa da operação israelense contra a flotilha, pescadores de Gaza conseguiram sair ao mar pela primeira vez em dois anos. “Enquanto nos sequestravam, o povo de Gaza pôde pescar e comer da própria pesca. Isso nos deu uma alegria imensa. Mostra que nossa ação teve um efeito real, mesmo que indireto”, disse.

Ao ser questionado se sentiu frustração por não conseguir chegar a Gaza, Viveiros foi categórico: “De jeito nenhum. A missão foi um sucesso. A gente provocou um levante mundial. Houve manifestações em Roma, em várias partes do mundo. Falem de nós, sim porque assim se fala do genocídio”.

Recebidos na Jordânia com aplausos e solidariedade, os brasileiros ainda se recuperam do trauma. “Chegamos sem nada, só com a roupa da prisão. As pessoas começaram a doar roupas, comida, café. Fui num shopping comprar um celular e um homem de Gaza me deu café de presente para agradecer. É uma gratidão que emociona”, contou.

Viveiros agradeceu o apoio e reforçou o sentido político da missão: “A função da sociedade civil é praticar ação direta não violenta, criar o fato. Nós mostramos que é possível desafiar o bloqueio e denunciar o genocídio. Israel tenta silenciar, mas a solidariedade é mais forte”.

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