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“Trump quer manter o dólar como imposto planetário”, diz Chico Teixeira

Historiador afirma que os Estados Unidos enfrentam impasse estratégico com a China e usam tarifaços como alternativa à guerra direta

(Foto: Divulgação | REUTERS/Leah Millis)
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247 - Durante entrevista ao programa Boa Noite 247, o historiador Chico Teixeira concentrou sua análise no governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e apontou que a atual estratégia de confrontação econômica com a China revela uma tentativa de preservar a hegemonia global norte-americana sem recorrer a uma guerra direta. Segundo ele, o centro da disputa está na manutenção do dólar como a principal moeda internacional. “A questão central dos Estados Unidos para se manter como grande potência é de fato manter o dólar como moeda e nas suas inúmeras funções: função de troca, de armazenamento, de tesouramento, de reserva de valor”, afirmou.

Teixeira destacou que os EUA criaram uma ordem mundial que agora tentam redesenhar para atender a seus interesses estratégicos diante do avanço da China como nova potência global. “O escândalo todo em cima de que ele [Trump] está tarifando países, amigos ou não amigos, que estão dentro da ordem mundial que eles mesmos criaram, não me comove”, afirmou, acrescentando que parte da esquerda “fica até ensinando que isso vai dar errado”, o que, em sua visão, revela “um horror desmesurado” baseado em pressupostos neoliberais.

Para o historiador, Trump opera uma inflexão na política externa e econômica dos Estados Unidos que, embora repleta de tensões, responde a uma necessidade real do império americano: evitar a ascensão da China a um patamar de liderança global. “Se os Estados Unidos querem continuar hegemônicos, manter o dólar e a língua inglesa como ferramentas dessa mundialização neoliberal, têm que enfrentar a China. Se não for com tarifaços, vai ter que ser com guerra, e essa guerra seria muito mais custosa”, afirmou.

Chico Teixeira criticou ainda o espanto de comentaristas e setores políticos, inclusive no Brasil, com ações de Trump como a tentativa de demissão do presidente do Federal Reserve. “A gente queria demitir o Roberto Campos Neto aqui e se espanta que ele [Trump] queira fazer isso lá? Ora, o Lula não queria fazer isso também?”, questionou. Segundo ele, a reação negativa a esse tipo de medida revela um apego à “caixa de ferramentas do neoliberalismo” que deveria ser superado.

Sobre os impactos econômicos da política tarifária, Teixeira apontou que a inflação provocada pelas barreiras comerciais deve ter efeitos internos nos EUA, mas também consequências para outras economias. “Vai haver um período de balanceamento. O público vai parar de comprar em lote, vai substituir produtos. Isso é o que sempre acontece em qualquer lugar do mundo”, afirmou. Para ilustrar o peso das trocas comerciais nas crises imperiais, o historiador comparou a atual situação com o colapso do Império Romano. “O Império Romano não conseguia mais pagar suas legiões porque toda a prata tinha ido para a China, em troca de bens suntuários. Isso desfinanciou o Estado e provocou o colapso nas fronteiras. É isso que a gente está vendo agora.”

Segundo ele, ao contrário do que prevê a narrativa catastrófica veiculada por muitos analistas, os dados disponíveis sugerem outro cenário. “O dinheiro que está saindo de empresas, de bolsas, de investimentos, está indo para onde? Ouro e letras do tesouro americano. Letras de dez anos, ou seja, para além do governo Trump, estão se valorizando. Eu não vejo essa catástrofe que está sendo anunciada com grande pânico”, disse.

Chico Teixeira também afirmou que os ataques de Trump ao sistema financeiro global revelam uma crise profunda do pensamento neoliberal e uma tentativa de reorganizar a ordem mundial sob novos parâmetros. “O que a gente está vendo é uma grande crise do pensamento neoliberal. Ele provoca um horror desmesurado, mas esse horror revela uma dependência de uma lógica que não serve mais. Não há nenhuma razão para eu usar a caixa de ferramentas do neoliberalismo”, concluiu. Assista: 

 

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