“Trump é racista e o pior presidente dos Estados Unidos”, diz James Green
Em entrevista a Hildegard Angel, James Green traça um retrato duro de Trump, revisita a ditadura brasileira e reafirma a centralidade da solidariedade
247 - No programa “Conversas com Hildegard Angel”, na Tv 247, o historiador James Green — pesquisador de referência em estudos latino-americanos — afirmou sem rodeios: “Trump é racista e o pior presidente dos Estados Unidos.” A entrevista, conduzida por Hildegard Angel, recupera passagens decisivas da militância e da produção intelectual de Green e oferece um panorama sobre os impasses democráticos atuais.
Logo no início, Green articula biografia e análise política para sustentar sua crítica ao atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele acusa Trump de cultivar uma agenda que desmonta políticas sociais e ambientais, avança sobre direitos civis e flerta com um projeto autoritário. Ao mesmo tempo, revisita as raízes de sua própria atuação, dos movimentos contra a ditadura brasileira às frentes LGBTQIA+ e feministas, sempre com a convicção de que a memória histórica é ferramenta de transformação.
Formado pela UCLA e com trajetória na Brown University, Green narra o percurso que o levou do ativismo estudantil nos anos 1970 à consolidação como historiador. Entre as passagens mais fortes, destaca a digitalização de 60 mil documentos do governo norte-americano sobre a ditadura no Brasil, iniciativa pensada para democratizar o acesso a fontes e favorecer pesquisas sobre violações de direitos e relações Brasília-Washington. A operação, diz, foi parte de um gesto político: “desconstruir hierarquias” e devolver aos brasileiros seu próprio arquivo de memória.
A conversa também mergulha no campo cultural. Green revela estar envolvido na produção de uma ópera com temática ligada à ditadura, recorda nomes e palcos — de Manaus a Buenos Aires — e sublinha o papel da arte como registro sensível da história. Em tom confessional, conta como o Brasil o “adotou” culturalmente, desde os encontros com grupos de teatro no Norte e Nordeste, em 1976, até amizades e laços que atravessaram décadas.
O fio condutor, porém, é a coerência entre vida e pensamento. Green relata como sua experiência de homem gay o aproximou, desde cedo, de outras lutas contra opressões e estigmas. Foi pioneiro ao organizar um núcleo LGBT dentro de uma organização de esquerda legalizada, ao mesmo tempo em que ajudava a erguer o Grupo Somos e participava de atos que, à época, desafiaram tabus dentro e fora das esquerdas. Ao rememorar esse período, resume a ética que o guiou: “A democracia não pode parar na porta da fábrica, nem na beira da cama.”
O historiador dedica um trecho significativo ao legado de Daniel, militante e escritor cuja biografia assinou e que reapresenta nesta entrevista. Do exílio em Paris à campanha pioneira no Partido Verde, passando pela crítica à luta armada e pelo relato sociológico de uma sauna gay, Daniel é descrito como personagem-chave para entender a interseção entre política, sexualidade e cultura no fim da ditadura. Em sua memória, Green destaca outra máxima que atravessa gerações: “A melhor cura da Aids é solidariedade.”
Ao examinar o presente, Green volta a mirar o cenário internacional e a cultura política que, em sua avaliação, levou Trump — o atual presidente dos Estados Unidos — a catalisar ressentimentos e desinformação. Ele recorda processos anteriores de incitação moral e pânicos fabricados, a corrosão institucional por dentro, a instrumentalização das cortes e a demonização de minorias. O saldo, afirma, é uma erosão do “tecido social” que se replica em países diversos por meio de redes digitais e campanhas de ódio.
Mesmo diante do pessimismo, a entrevista não se encerra no desalento. Green confia na persistência de redes de solidariedade, na força de movimentos sociais e na vitalidade de universidades, arquivos e livros como antídotos à mentira e ao autoritarismo. É a aposta — acadêmica e militante — de quem atravessou ditaduras, exílios, reconciliações e segue insistindo no encontro entre história, arte e direitos.
“Trump é racista e o pior presidente dos Estados Unidos.” “A democracia não pode parar na porta da fábrica, nem na beira da cama.” “A melhor cura da Aids é solidariedade.”
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